jeudi 22 mars 2018

Amizades pra uma vida

Quando a gente nasce, não tem amigos. Só pensa no peito da mãe, que, segundo Winnicot, é visto mais como uma continuidade nossa. Depois a gente percebe que não é bem assim, e começa a diferenciar os pais, irmãos, e conforme vai crescendo, aparece a necessidade de criar novas relações.
Eu fui uma criança timida. Não me lembro de sentir realmente vontade de ter amigos, mas as horas de recreio tinham que servir pra alguma coisa, então me lembro de participar de brincadeiras com os outros. Correr não era meu negócio, sabe aquela dor de lado ? Então, o jeito era passar despercebida, a ponto de ser sempre a última a morrer na queimada. Enfim, tinha lá minhas amiguinhas. Me lembro de estar correndo na rampa da nossa escola, que era uma descida daquelas, seguida de uma subida equivalente, e sem saber muito em que circunstâncias, uma delas me disse que ela gostava de mim "porque eu fazia tudo que ela queria". Só mais tarde fui entender o por que... Mas acho que era natural naquela idade, que as relações fossem baseadas em interesses. Eu morava numa indiferença, por estar naquela faixa de crianças que não eram nem lideres nem do fundão. Nem brilhantes, nem com grandes dificuldades. E até uma certa idade foi bem confortável.  Guardei uma grande amiga daquela época. Crescemos juntas, menstruamos pela primeira vez no mesmo dia e até trocamos de namorado; quando nos vemos, o tempo pára e nosso afeto e cumplicidade aparece, de imediato. 

Na adolescência trocava muito de grupo, mas era como se fossemos todos meio amigos, de uma maneira superficial, mas por termos os mesmos interesses, pertencíamos ao mesmo grupo. No meu TCC, me questionava o porquê de precisarmos viver em sociedade... 

Com o passar do tempo, a maneira de estabelecer relações de amizade foi cada vez mais se modificando. Num momento da minha vida, as novas amizades surgiram nos pais dos amigos das crianças, e muitos foram se aprofundando, laços firmes e indestrutíveis se criaram. Partilhávamos alegrias e preocupações, enquanto dividíamos um pedaço de bolo de fim de festa que não quer acabar, e aliviávamos um pouco o peso da rotina doida da maternidade.

Aqui na França as amizades foram acontecendo de maneiras diferentes. Amigos em comum, paises em comum, olhares cruzados na rua. Aniversários surpresas inesquecíveis, prova de um caminho percorrido juntas, construido com respeito e afeto.

Cada uma delas merece uma história especial, pois a presença dessas mulheres incriveis na minha vida deu a ela um verdadeiro sentido. Nas nossas conversas, pude escutar a mim mesma, em suas escutas generosas e conselhos preciosos, meu coração foi acolhido e tudo ao meu redor ganhou novas cores.


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