lundi 25 mai 2009

Mais um dia com Sabine




Eu posso realmente passar horas e horas com a Sabine, minha amiga francesa, companheira de trabalho do Roti, de quem ja falei muitas vezes.
Desde 2003, quando foi a primeira pessoa a tentar se comunicar em francês comigo, com toda a paciência do mundo, até hoje, conseguimos manter firme a amizade, mesmo ficando três anos nos falando muito pouco. Ainda mantenho o mesmo tipo de amizade com muitas outras pessoas queridas, mas nossa afinidade e o entusiasmo que ela sempre me transmite é incrivel !
Passamos o sabado juntas, em familia. O combinado era um piquenique que miou : choveu de manha e nao queriamos passar o dia debaixo de chuva. Sem problema, ficamos todos no nosso apê… os meninos felizes por poderem jogar bastante video game, o suficiente para cansarem depois de algum tempo e sairem para bater uma bola… Enquanto isso, nos deliciamos com os quitutes e com o bate papo ate o sol se por, quase dez da noite !
Eu preparei um bolo de chocolate com coco ralado e um bolo de cenoura (sucesso garantido entre as crianças), alem de uma receita deliciosa de morangos, embebidos de açucar e limao siciliano, que curtindo na geladeira, forma um xarope natural refrescante. Receita de quem ? Adivinhem ? Dela mesmo,da Sabine, passada de vo para mae e de mae para filha…
Sabine trouxe uma torta de chocolate com nozes mergulhadas no mousse, e laranjas preparadas numa calda de flor de laranjeira, que salpicou de lascas de noz pecan. Banquete ou nao, começamos com um cafezinho, depois o Roti quis abrir uma champanhe alema (uma espumante na verdade, pois nao pode ser chamada de champanhe) que ganhou de um amigo na ultima viagem.
Conversa daqui, de la, Iago pedia para o Jean Michel desenhar para ele, depois trazia o quebra cabeça e assim ficamos ate às sete da noite, quando lembrei que tinha que preparar algo para os famintos que chegariam do futebol…
Sabine me entusiasma quando deixa que eu veja em seus olhos a paixao pelas coisas, um carinho contagiante pelos lugares que conhece, pela relaçao que as pessoas desses lugares estabelecem com a gastronomia, que parece ser de respeito às tradiçoes, ao calor humano, algo do campo que aproxima as pessoas… que quando fala do que aprendeu com sua avo, com sua mae, os parentes do sul da França e o sotaque carregado de sol e mar mediterraneos, até sua paixao pela manteiga e a Normandia. Sabine ama a Dordogne, onde fui na ultima viagem com meus pais, mas ama tambem o Aveyron, terra de seu avô, onde quem sabe, possamos ir juntas um dia… Ama a fazenda, os produtos comprados diretamente do produtor, o carinho transmitido da materia prima ao produto final, em seus pratos suculentos e inesqueciveis como o Gratinado de batatas e bacon defumado à la Savoyard que saboreamos ha alguns meses em sua casa.
As crianças voltaram famintas e o spaghetti improvisado estava praticamente pronto… no molho, um cremoso creme fraîche (creme de leite fresco), bacons refogados com cebola e pedacinhos de peito de frango. Abrimos um bordeaux que deu pra quebrar o galho e descobri mais uma nuance romantica da relaçao entre os franceses e seus queijos. Disse à Sabine que nao tinha gostado do queijo Saint Nectaire que comprara do meu fromager (queijeiro), e pedi que me dissesse o que achava… ela nao achou o queijo ruim, mas afirmou que nao era o que se espera de um Saint Nectaire na boca. Como assim, a boca espera alguma coisa de um queijo ? Segundo ela, quando se come um queijo ele « toca » certa parte da boca, onde é esperado, quando se conhece o seu gosto… filosoficamente, se espera que ele alcance uma regiao reservada para ele ! Sera que existem mais de 300 pontos de papilas gustativas especificas para cada tipo de queijo frances, uh la la !

Mas minha amiga nao é so gastronomicamente apaixonante, a gente tem muitas outras coisas em comum… adoramos receber as pessoas, saber suas historias, o que pensam das coisas, acolher para que se sintam bem, cozinhar para elas. E assim que nos relacionamos, é assim que damos afeto, e é assim que recebemos tambem, na cartinha deixada na caixa de correio, num cantinho da cozinha, numa lembrancinha pras crianças, ou simplesmente na gratidao vista olhos nos olhos.
Ela sonhou que tinha uma republica que recebia estudantes do mundo todo em Paris, eu, tenho meu cantinho ajeitado, para os brasileiros que estao passando por aqui, que nunca deixam de provar meus quiches…
Queria levar um pedacinho da Sabine para as minhas queridas provarem um pedacinho dela, e trazer pra ela tambem, um pedacinho das minhas queridas dai : Simone, Silvias, Lucis, Livia, Jany, Tati, Estrela, Marcias, Dani, Deni, Dani e Dri (mesmo estando aqui), Clea, Odilene, Nubia, Darly, Telma, Edilma, Zulma, Nadir, Marias, Mae, Lucia, Seiko, Marta, Monica, Maysa, Katia, Luiza, Verinha, Paty e Pati, Selma, Bete, Bethy, Rita, Celina, Dirceia, Sueli, Tina, Reginas, e quantas outras meninas, os meninos, nao quis compromete-los, sabe como é, né…
obs : vou lembrando, vou postando, hehehe...

lundi 18 mai 2009

Les Rencontres Vert Avril - Encontros Verdes de Abril




Nao, nao é um titulo de filme frances… Os encontros verdes de Abril foi uma feira de flores, produtos naturais e derivados du terroir como dizem por aqui, vindos diretamente do produtor. O jeito poético de dizer Feira de Horticultura…
Festejando a tao esperada primavera, foi transferido sabiamente da segunda quinzena de Abril, quando costuma acontecer aqui em Bourg la Reine, para o mesmo periodo de maio. Como o inverno foi bastante rigoroso este ano, todos esperam um verao quente e calorento, mas a primavera esta bem cinza e umida.
Queria falar das minhas impressoes na gostosa, mas chuvosa, tarde de sexta feira, quando aproveitei minha folguinha do Iago para zanzar pela feira, sem pressa…
Escolhi por preço e cheiro, conformada com o pequeno terraço em reforma que possuo no momento, tres pequenos pés de um tipo de geranio perfumado e dois pés de mirra, para nao so embelezar como tambem perfumar minha futura linda varanda. Por enquanto, alguns pes de pepino e tomate cereja vao se enroscando no movel da sala, acompanhados pelo meu quase arbustivo pé de manjericao.
Na feira, havia muitas bancas com flores, decoradas com capim pelo chao, como se estivessemos passeando na fazenda mesmo. Entre as barracas de artesanato tinha uma encantadora, de uma senhora que pintava em folhas secas pequeninos desenhos, desde varais de calcinhas coloridas e fraldas de pano, ate flores e a mamae pata e seus filhinhos. Muito francesinha essa banca… Mas tinha tambem uma cheia de cabaças que se transformaram em abajures, bonequinhos e cortinas de passagem.
Quanto às barracas de deliciosas guloseimas, havia uma de cafe organico, geleias, doce de leite e a de mel, com a maior variedade de mel que ja vi ! Gosto muito de mel com manteiga e pao de manha, e de um molho com mel, manteiga e shoyu para comer com salmao… o rapaz que parecia entender do assunto, oferecia colheres com diferentes consistencias, cheiros e sabores à uma senhora de nariz empinado… colei nela e fui experimentando junto… claro que o gosto dela é bem diferente do meu, cada uma de nos provou e escolheu a seu gosto, mas recebendo as informaçoes do simpatico apicultor, que explicava sorrindo que existem meis leves que caem bem pela manha, outros encorpados cheios de graos que aguçam as papilas gustativas… e eu verificava isso mesmo quando ele contava depois a origem da flor cujo nectar dera tal e tal sorte de mel… Degustaçao deliciosamente calorica essa, mas eu bem que poderia ficar la provando todos os sabores : da Montanha, lavanda, alecrim, flor da floresta, rododendro… muuuuitos tipos diferentes ! Mas ficarei devendo a foto, pois estava passeando sem a maquina…pena, pois poderia ter registrado a cara de pavor da senhora metida, quando revelei que comemos o pao de mel (Pain d’épices) envolto de uma camada de chocolate, o que nao existe por aqui… Por fim, o rapaz me agradeceu em português e parti sorrindo.
Proxima parada : as geleias. Na verdade, aqui as geleias nao tem pedaços de frutas, so as confitures, minhas prediletas… e como as maravilhas que temos ai, de uma variedade incrivel de misturas para comer-se com fromage blanc (uma variaçao de iogurte), com pao pela manha ou como acompanhamento de carnes, estilo chutney… Na banca da « Au dessus, sur l’etagere du haut », ou seja, « em cima, na prateleira do alto », ja gostei de cara da originalidade do nome, voces nao acharam demais ?!!! E mais ainda daqueles vidros simples de geleias, distribuidas para a degustaçao em potes com colheres dobradas de forma a se encaixarem nos mesmos, sabores : maças com gengibre, rhubarbe, abacaxi com kiwi, framboesas, e a bem acidulada que me trouxe ao gosto de infancia da geleia de uvaia preparada pela minha avo, com as frutas colhidas no jardim… E ainda ganhei a receita junto : Ameixas brancas ao vinho branco e mel.
Depois voltei com o Iago para mostrar os animais da fazenda que estavam expostos : uma vaca, cabras e bodes, galos e galinhas, coelhos e patos; mas ele ficou muito desconfiado com a cabeçorra da vaca que ruminava à sua frente, acho que nao vai mugir por um bom tempo… o Iago, nao a vaca… Na verdade, ele abriu um baita sorriso com a lesma que caminhava sobre seu prato de sobremesa ontem à noite… talvez se simpatize com bichos menores, hehehe.

vendredi 8 mai 2009

Passeando pelo cemiterio



Meu ultimo passeio com minha mae foi ao cemiterio Père Lachaise, em Paris.
Voces podem se perguntar o que fomos fazer num cemiterio no seu ultimo dia comigo…Atendi finalmente um pedido que me fizera ha 5 anos, quando morei no bairro 20 em Paris, bem proximo ao cemiterio : ver o tumulo do Allan Kardec.
Questoes relacionadas à vida e à morte vem à tona quando se decide fazer um passeio como esse. Destino de muitos e futuramente nosso tambem, faz brotar um sentimento diferente, de igualdade, fraternidade, respeito.
Passeio esquisito ir ao cemiterio; ate deixou minha mae mais séria. A chegada ate la ja valeu o trajeto naquele lindo primeiro de maio de ceu azul. Pegamos uma das minhas linhas preferidas, a linha 2, que cobre parte de Montmartre, onde foi gravado o filme de Amelie Poulain, meu preferido. Ha um trajeto externo neste trecho, com curvas, que passa pelo Canal Saint Martin, um canto mais cool e popular de Paris. Mesmo aqueles que circulam nestes trens : uma mistura de imigrantes residentes nos bairros ao redor da linha e turistas… convivem na diversidade, cada um seguindo seu destino.


Bem, o nosso, nesse dia, era a estaçao Père Lachaise do metro. Moradia de ex-astros e estrelas muito conhecidos, ao menos seus ossos… ele atrai muita gente. Alguns buscam as esculturas feitas por renomados artistas, outros as belas e frondosas centenarias arvores que ali habitam; enquanto outros procuram os tumulos das celebridades como Jim Morrison e Edith Piaf, talvez para se aproximar ao maximo de um idolo, ou do que restou deles em Terra, ou simplesmente por curiosidade. Minha mae é espirita, e sabia que naquele cemiterio se encontravam somente os restos de Allan Kardec, pai do espiritismo, entao, num misto de curiosidade e busca da celebridade, seguimos pelas alamedas atras de sua tumba escondida.




« Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem parar, de acordo com a lei. »
« Naitre, mourir, rennaitre encore et progresser sans cesse telle est la loi. »
Parei diante do texto e do tumulo rodeado de flores, li, reli, concordei e fotografei-o. Ai entao, surpreendi-me por ser exatamente o lugar que procuravamos ! Se nao fosse assim, acho que nao o encontrariamos… Um busto de um homem e seus feitos, descritos na lapide para sempre, diferente de seus restos mortais, que serao reabsorvidos pela vida, com o tempo.
Nao so os restos dele, que sugeriu que o espirito empreende mais viagens do que podemos imaginar, mas de todos os outros que estao lado a lado no cemiterio. Alguns, com lapides decoradas com vitrais que faziam alusao à Cristo, Nossa Senhora, e outros santos, como se a morte pudesse aproxima-los. Disso, pouco sabemos…
Mas todos, vangloriados e glorificados pelos seus feitos em vida : generais, artistas, pintores, cantores, jamais pelo seu carater humano : generoso, altruista, humilde.
O que é mais significativo de ser colocado em lapide ? O que se fez ou o que se foi ? Todos, mesmo o pior dos mortais, teve la suas virtudes… o que deve ficar marcado em algum lugar, de alguma forma, em cada um de nos. Por que ressaltar feitos e fatos e nao a atitude diante da vida ?
Seja la o que eu fizer, quero ver escrito no meu tumulo : mae dedicada, de poucas ambiçoes e muitos queridos !
E tenho dito.

Busca indefinida


Depois de dois meses sem escrever aqui, decidi me impor uma disciplina em relaçao ao meu blog, escrevendo uma vez por semana, visto que assunto nao falta…
Meus pais passaram tres semanas conosco, e viajamos para lugares lindos, passando otimos momentos juntos, assunto para muitos textos. Antes deles chegarem, todos meus tres rapazes se revezaram na Catapora… Catapora chique, francesa !
Falando em França, meu blog em frances "Les mystères de Sao Paulo" (http://ciceronebrasilfrance-crys.blogspot.com) esta com uma boa divulgaçao, o que me deixa bem contente, sinal de que o que venho fazendo é justo, quero dizer, vai de acordo com o que eu vivi o que me permite escrever algo. Uma radio suissa o achou interessante e original, pois eu falo um pouco sobre lugares de Sao Paulo que conheço e descrevo o lugar relacionando-o com a experiencia que tive la. Um site que seleciona blogs (http://www.paperblog.fr) tambem me convidou para participar de sua seleçao, que faz uma triagem nos blogs de qualidade que circulam por ai.
Conversando esses dias com meu pai, falavamos sobre isso, sobre falar sobre as coisas com uma propriedade que nao temos, visto que nao a vivemos de verdade, na pele, posiçoes que as vezes afirmamos com uma certeza tremenda, e que é falso, mas ao mesmo tempo insconsciente, visto que nao nos damos conta desse movimento. Se pudessemos neste instante mesmo, que afirmamos o que ciclano e fulano passaram e nao eu, perceber o tamanho da bobagem que estamos dizendo… seria um balde de agua fria, mas nos faria pensar um pouco antes de sair dizendo qualquer coisa.

Mas por que falamos tanto, sobre tanta coisa que nao sabemos ?

Sera que queremos criar uma imagem de nos mesmos de sabedoria e conhecimento ?

Sera que temos consciencia de que quanto mais afirmamos uma infinidade de « eu acho », mais perdidos estamos ?

Afinal, o que procuramos ?