mardi 8 novembre 2011

Quando tudo que é desigual esta tao longe do normal.





Ela ficou mais um dia so pra ficar comigo. E a primeira vez que alguém fora meu pai e minha mae fica por aqui por causa disso. Fiquei tocada pela sua atitude, e entao decidi tirar pra ela o dia todo… e o dia seria particularmente diferente, além do que poderiamos imaginar.

Duas almas poetas, querendo aparar suas arestas… tanto lugar pra se inspirar, pra nos marcar juntas, mas nao, foi no imprevisto que nos caracteriza que o dia se fez.

Um par de tenis nos levou pra perto da biblioteca François Mitterrand, heroi pra ela, imagem de sua historia de infancia… e enquanto falava disso, quase caimos por estar debruçadas na porta do metro, achando que ela ia abrir do outro lado…Subimos sem pressa cada lance de escada rolante, conversando, partilhando informaçoes e impressoes, tanta coisa que a gente tinha pra dividir e nunca tinha tido oportunidade.

Ela falava do tempo do sertao de Minas e do Alentejo, eu do tempo da rotina e do Maranhao, e o nosso tempo também ficou outro, mais vivido, mais aproveitado.

Tentei imaginar onde poderia estar a loja, pensei em perguntar, mas nem precisei pois ela estava logo ali do outro lado da rua a nos esperar. Compramos rapidinho e saimos dali… gastar nao é com a gente, essa historia de grana é algo que altera o tempo presente.

Lembranças ela buscava pra levar pra filharada, saimos em busca numa caminhada.

Atravessando o rio Sena comendo uvas passas, pareciamos personagens de uma cena surreal. Eu vestida de brecho e ela com uma calça desfiada, que o Iago sugeriu que me desse pra costurar; passamos quase despercebidas pelo pedinte do farol… que nos olhara com o rabo de olho e viu que dali nao tiraria nem um piolho.

Entre outras lojas perambulamos, nos perdendo e nos achando, almoçando juntas nos alimentando muito mais do que de crepes… e ainda faltava uma parada, procurar o desigual la onde é tudo igual.

Traduzindo, no coraçao do boulevard Haussman que cheira a perfume doce, nos vimos espremidas entre as duas lojas de sonho de consumo de tanta gente, evitando até o fim atravessar o vidro, beirando mesmo o limite da gente. Nao teve jeito, depois de girar em circulo sob os olhos da Gisele Bundchen decorando estranhamente o esplendoroso Operah, tivemos que nos render e entrar atras da tal desigual, nos sentindo fora do normal.

Compreendo agora o sentimento dela e partilho, quando disse que nao comprar ali era uma questao de principio. E o mesmo que senti quando visitei Versailles e conheci a realidade da populaçao enquanto o rei Luis XIV contruia suas fontes. De um lado do vidro uma fila de orientais esperavam pra entrar no espaço Chanel, enquanto do lado de fora ambulantes sob a garoa fina tentavam vender bonecos vestidos de Papai Noel.

Que Natal é esse ? Nao ha como nao se sentir mal, tudo esta às avessas e fora do normal. Inclusive as roupas exclusivas da tal desigual, que custam o que festejaria pra essas pessoas da garoa muito mais do que uma ceia de Natal.