dimanche 26 octobre 2008

Meio japonesa



Hoje ja me considero meio japonesa, convivendo ha mais de 17 anos com a cultura... Muito do que faço na cozinha, e mesmo da minha postura no preparo, minhas preocupaçoes em preparar algo que agrade a todos; vem do meu contato com a Seiko e o Cinzo, pais do Roti.
O feijao cremoso e bem temperado, uma cebola inteira e quase uma cabeça de alho no feijao que passou a noite de molho; o uso do Misso no frango e no peixe, que fica curtindo na pasta ate ser grelhado numa frigideira anti aderente; o tofu quentinho temperado com hondashi, e ate o arroz japones que adotamos em casa ha muito tempo, foram influencias da Seiko, que sempre preparou quitutes nipo-brasileiros maravilhosos, com muito amor e carinho, que guardamos no coraçao.
Do prazer da busca da materia prima ate o preparo : a dedicaçao do começo ao fim. Na pesca do lambari no sitio em Juquitiba, la ia ela para a represa de vara de bambu e minhoca, voltando horas mais tarde com a cesta cheia de lambaris. Feliz da vida, direto pro tanque limpar os danadinhos antes de empanar e fritar, para a nossa delicia. Todo o trabalho, do começo ao fim, sem pedir nada, sem esperar nada em troca, com muito carinho, e um grande exemplo.
Da para entender o trabalho do pequeno agricultor na lida com o broto de bambu. Ela me ensinou a procurar os brotinhos espalhados no meu quintal, a cortar onde esta mole, perto da raiz, depois limpar e descascar um por um, ficando apenas com uma pequena parte que cozinhamos com pouco de sal para usarmos em saladas, risotos, e onde mais quisermos... E isso pode levar um dia inteiro de atividade fisica, paciencia, minuciosidade, para depois espalhar um pouquinho da iguaria para cada lado da familia. Mas o que e mais gostoso e saber que somos capazes de nos dedicarmos a algo do começo ao fim, como faziam nossos ancestrais e ainda o fazem alguns ate hoje.
Com o Cinzo aprendi a conhecer a culinaria japonesa, pois ele me dava tudo para experimentar, e sao poucas as coisas que nao como ate hoje. Provava, comia e queria saber o que era tudo aquilo de sabor tao suave e diferente do que eu estava acostumada. Ate hoje ainda nao sei o nome de alguns pratos... Mas o Cinzo se preocupava muito com a qualidade do que ele comprava, e me ensinou que e possivel escolher jabuticaba, desde que voce seja amigo do feirante; que existem os mais variados tipos as laranjas e mexiricas, que eu deveria trocar a agua do tofu diariamente, assim como das mandioquinhas que ele me ensinou a conservar em agua; de embalar a alface num saco de pao de papel, e tantas coisas mais. E la vinha o vo Cinzo no sabado de manha, com uma cesta enorme de frutas, verduras e legumes agradar os gostos de cada neto. O Iago ia gostar dele...
Aprecio de verdade nao so a culinaria japonesa, mas a sua cultura, permeada de sabedoria, persistencia, e muitos outros atributos que vejo estampado nos homens daqui de casa...

samedi 25 octobre 2008

Tal pai, tal filha


Acredito na arte passada de pai pra filho, nao pela imposiçao aos filhos de seguirem a mesma carreira dos pais, o que alguns ainda fazem na epoca do vestibular; mas sim pela admiraçao que e compartilhada, muitas vezes desde a infancia, de uma paixao ou um hobby.
No meu caso, cresci no jardim, rastelando grama, limpando a piscina e cuidando dos cachorros, mas sempre acompanhando a relaçao de meu pai com a cozinha.
O domingo era o dia que ele se dedicava as macarronnadas, descobrindo novos molhos, recriando antigos, adorando fazer isso, e de verdade, ate hoje meus molhos nao chegam no dedinho de pe dos seus...Me lembro tambem das carnes de panela, dos churrascos e mesmo das belas mesas de queijo e vinho que sao montadas ate hoje com a ajuda de minha mae, sempre usando a comida como um meio de relaçao, de receber os queridos e oferecer algo a eles de coraçao. As grandes festas ainda sao ate hoje carinhosamente planejadas e discutidas com as cozinheiras da familia, eu e a Seiko, minha sogra, para que façamos sempre algo gostoso, novo e que agrade a maioria.
Minha vo Norma tambem tinha essa relaçao com o alimento, realizando verdadeiras festas antes das festas nas maratonas dos docinhos e bolos que preparava para os casamentos e aniversarios em geral de toda a familia. Sentavam-se todas as mulheres em volta da mesa para enrolar e colocar nas forminhas os brigadeiros, olhos de sogra, beijinhos, moranguinhos, bananinhas, e tinham sorte aqueles que conseguiam raspar as travessas, se lambuzando de doce com a grande colher de pau... Dela tambem me lembro do nhoque, de ve-la enrolando um por um no ralador para deixa-lo leve e oco para o molho penetrar, de suas unhas vermelhas num vai e vem delicado e constante, enquanto conversava com os outros. Lembranças que marcaram de maneira afetiva tambem a minha relaçao com o cozinhar.
Cozinho para meus mosqueteiros todos os dias, raramente para o Dartagnan pois ele nao da muito palpite, talvez nao encontre espaço; mas tenho recebido tambem amigos de origens variadas para jantar e me aventurado na cozinha para satisfazer os paladares diferentes.
Para o amigo indiano que nos presenteou com um pouco de mostarda e uma receita de batatas, cebola e azeite, tentei nao arriscar muito, e ele veio acompanhado pela colega japonesa, cuja culinaria ja conheço um pouco melhor. Acabei preparando uma macarronada que faço sempre, de molho branco com champignons de Paris e cenouras raladas, acompanhadas de coquilles St Jacques (conhecidas em portugues como vieiras), prato que meu pai ja enriqueceu no Brasil acrescentando vinho branco e frutos do mar; e abobrinhas refogadas rapidamente no azeite.
Ja me diverti bastante tambem cozinhando em conjunto com minha amiga francesa Sabine, ela preparando na ultima vez fatias de lombo com maças cozidas, e eu entrei com nosso arroz e feijao, deliciosamente acompanhada por um tinto ou mesmo uma sidra (a deles nada tem a ver com a nossa...)
De qualquer forma, me parece que no servir o alimento ao outro, esta toda a intençao de nutri-lo, de abastece-lo de algo que e seu, de uma energia que foi utilizada no preparo desde a intençao ate a pratica, e isso interfere no resultado final. Posso ver nitidamente isso na minha torta de frango, que varia a cada dia, conforme meu estado de humor; e tambem nos pratos preparados pelo meu pai por aqui, que tentei repetir e que ao meu ver nao ficaram exatamente como os dele. Ai mora a magica da pitada, a liberdade de dar a sua cara ao preparo, o seu toque... bon apetit.
A culinaria japonesa que aprendi na casa dos Amino merece outro capitulo...

vendredi 24 octobre 2008

Relaçoes culinarias


Mesmo sendo apenas um dos alimentos dos quais precisamos para viver a nossa aventura terrena, a comida rende muita conversa, aproxima pessoas, culturas e fortifica relaçoes.
Por aqui, e basicamente o que faço: acordo pensando nos menus da semana para organizar as compras, varia-las na medida do possivel, e ainda agradar todos os paladares. E um otimo exercicio, pois os "conselheiros gustativos" de casa acrescentam, diminuem e inventam novas misturas a cada prato servido. Somente o Iago come qualquer coisa sem questionar, hihihi...
De fato, cozinhar e algo inacreditavelmente livre, uma pitada a mais ou a menos de um tempero muda a cara, o gosto, o aroma do prato... podemos nos inspirar nas estaçoes do ano, as frutas e verduras da estaçao, o clima, casando com as vontades de cada um.
Tenho usado muita abobora, na sopa das crianças, no ensopado com carne; mandioca na Vaca Atolada adaptada, abobrinha refogada rapidamente no azeite, pratos misturados, inventados, com ideias dos meninos, da internet e dos livros que ganhei da Marcia e da Dani.
O que ganhei da Marcia foi escrito por uma japonesa que mora em Nova Yorque e ama a comida caseira da mae. Muito bonita a poesia com que descreve como fazer os pratos, se lembrando de quando ia comprar os ingredientes com a mae pelas ruas de Toquio, a a maneira carinhosa e dedicada que cozinhava... comidinhas simples, de dar agua na boca. Homenagem da Marcia a sua mae (ate sinto o perfume das sopinhas da vo Seiko fumegando no fogao...) e a mim tambem, pois me consacro a arte noite e dia com a mesma dedicaçao. Ja fizemos um Yakissoba adaptado, carne e frango com arroz e legumes, trocando acelga por endivia e cebolinha por alho-poro...Mas ainda falta coragem e persistencia para tentar o delicioso tempura. Continuaremos as experiencias...
A Dani me trouxe o livro do Olivier Anquier, O Diario do Olivier, contando suas andanças pelo Brasil naquele Fusquinha encantador... que delicia de livro ! Me senti curiosamente envolvida pelo livro, como se compreendesse de outra forma, um pouco francesa talvez, o seu olhar tao entusiasmado e apaixonado por tudo que se relaciona a arte culinaria e a nossa gente, aquela gente simples, pura, feliz, que ama o que faz. Ele captou de forma singular a poesia do brasileiro expressa por meio do fazer, preparar o alimento e oferecer, servir carinhosamente a alguem. Desde o fogao a lenha ate a pesca do peixe assado na beira do rio, recomendo de verdade o livro, para mergulharmos no olhar apaixonado e verdadeiro desse frances tao brasileiro... Do final do livro, experimentem a receita de camembert, simples, refinada e deliciosa, que esta tambem no site...
Pouco a pouco conto mais sobre as relaçoes culinarias que temos tido por aqui...