mercredi 17 décembre 2008

Tendresse




Voltando de Paris, eu e o Roti entramos no trem, o que acontece sempre...


Um desses musicos que existem aos montes por aqui, entrou no mesmo vagao, disse la qualquer coisa e começou a tocar, o que tambem acontece sempre...


Eu nao tinha nenhum sentimento especial, nenhuma falta, nada que evidenciasse o choque que recebi com aquela cançao; pelo menos era o que eu imaginava...


Era uma cançao francesa, simples como as cantigas de Roberto Carlos, intercalando uma estrofe e um refrao, mas ele havia nos avisado, sorridente, que evocaria uma cançao que tocaria nossos coraçoes.


Cada estrofe cantada falava de como valorizamos os aspectos superficiais e superfluos da vida, como somos colados aquilo que nos colocam como necessidade, e que na verdade nos afastam da beleza mais simples da vida, de um sentimento que alimenta as relaçoes, sentimento pouco falado, vivido ou lembrado : a ternura. De que adianta tudo na vida, sem ternura ?


E isso me tocou como a mais pura verdade, la no fundo da minha essencia, e sinto ainda agora um noh no peito e a sensaçao da algo perdido, o que alimenta uma esperança de busca pelo reencontro.


Tendresse ou ternura, carinho doce, sutil, delicado, sincero, palavra e atitude pouco usadas, que nao se encaixam no corre corre do mundo em que pensamos viver, e ao inves disso, sobrevivemos...




E ali, naquele momento, no trem, cai em prantos, pois me vi absorvida por este mundo devorador, tao longe dessa ternura, que tanto tenho para dar e da qual tanto preciso...




E preciso ternura para compreender, para respeitar o outro, para cuidar...Dei uma moeda aquele ser iluminado, que ele seja abençoado por Deus por me permitir essa aproximaçao de uma verdade vivida na pele; olhei em seus olhos e agradeci, nao haviam palavras no momento.




O dia em que nos relacionarmos uns com os outros com a ternura com a qual o musico cantava sua cançao, talvez o mundo comece a mudar, pelo menos dentro de nos mesmos...




Homenagem aos meus queridos caes: Liska, Duque, Thor, Argus e Banze, cujos olhos trasbordavam ternura !

mercredi 12 novembre 2008

Liçao de andorinha


Lamentos e indagaçoes
Dentro e fora de mim
E percebo pela janela
As andorinhas em revoada

Tudo muda
Desço em mim
As andorinhas voando tao alto
Miudinhas la no ceu
Me trazem de volta a terra,
Me ajudam a sentir meus pes no chao

Queria eu me deixar levar como a andorinha
Ao sabor do vento, confiante, livre,
E ao mesmo tempo paciente e determinada

Sabendo, de alguma forma,
o que deve fazer
Ouvindo a sua natureza

Poucas vezes estou aberta a escutar minha verdadeira natureza...

lundi 10 novembre 2008

As duas margens


Numa margem, Sou eu...
Bela ? Sou eu.
Inteligente ? Sou eu.
Querida ? Sou eu.
Dedicada ? Sou eu.
Esforçada ? Sou eu.
Quantos atributos !

Porem, na outra margem, a pergunta cala :
- Eu sou ?

E um rio caudaloso corre entre elas...

Apego, se eu te pego...


Ah, o apego me pega de jeito
De um jeito que nele me ajeito
E ali fico
Grudada
misturada as coisas

Um nada vira um tudo - um tudo tao grande !
Que quando vejo, volta a virar nada...
E dele me afasto, me separo,
limito o espaço entre ele e eu

E posso ficar ali entao, descolada
Livre

dimanche 26 octobre 2008

Meio japonesa



Hoje ja me considero meio japonesa, convivendo ha mais de 17 anos com a cultura... Muito do que faço na cozinha, e mesmo da minha postura no preparo, minhas preocupaçoes em preparar algo que agrade a todos; vem do meu contato com a Seiko e o Cinzo, pais do Roti.
O feijao cremoso e bem temperado, uma cebola inteira e quase uma cabeça de alho no feijao que passou a noite de molho; o uso do Misso no frango e no peixe, que fica curtindo na pasta ate ser grelhado numa frigideira anti aderente; o tofu quentinho temperado com hondashi, e ate o arroz japones que adotamos em casa ha muito tempo, foram influencias da Seiko, que sempre preparou quitutes nipo-brasileiros maravilhosos, com muito amor e carinho, que guardamos no coraçao.
Do prazer da busca da materia prima ate o preparo : a dedicaçao do começo ao fim. Na pesca do lambari no sitio em Juquitiba, la ia ela para a represa de vara de bambu e minhoca, voltando horas mais tarde com a cesta cheia de lambaris. Feliz da vida, direto pro tanque limpar os danadinhos antes de empanar e fritar, para a nossa delicia. Todo o trabalho, do começo ao fim, sem pedir nada, sem esperar nada em troca, com muito carinho, e um grande exemplo.
Da para entender o trabalho do pequeno agricultor na lida com o broto de bambu. Ela me ensinou a procurar os brotinhos espalhados no meu quintal, a cortar onde esta mole, perto da raiz, depois limpar e descascar um por um, ficando apenas com uma pequena parte que cozinhamos com pouco de sal para usarmos em saladas, risotos, e onde mais quisermos... E isso pode levar um dia inteiro de atividade fisica, paciencia, minuciosidade, para depois espalhar um pouquinho da iguaria para cada lado da familia. Mas o que e mais gostoso e saber que somos capazes de nos dedicarmos a algo do começo ao fim, como faziam nossos ancestrais e ainda o fazem alguns ate hoje.
Com o Cinzo aprendi a conhecer a culinaria japonesa, pois ele me dava tudo para experimentar, e sao poucas as coisas que nao como ate hoje. Provava, comia e queria saber o que era tudo aquilo de sabor tao suave e diferente do que eu estava acostumada. Ate hoje ainda nao sei o nome de alguns pratos... Mas o Cinzo se preocupava muito com a qualidade do que ele comprava, e me ensinou que e possivel escolher jabuticaba, desde que voce seja amigo do feirante; que existem os mais variados tipos as laranjas e mexiricas, que eu deveria trocar a agua do tofu diariamente, assim como das mandioquinhas que ele me ensinou a conservar em agua; de embalar a alface num saco de pao de papel, e tantas coisas mais. E la vinha o vo Cinzo no sabado de manha, com uma cesta enorme de frutas, verduras e legumes agradar os gostos de cada neto. O Iago ia gostar dele...
Aprecio de verdade nao so a culinaria japonesa, mas a sua cultura, permeada de sabedoria, persistencia, e muitos outros atributos que vejo estampado nos homens daqui de casa...

samedi 25 octobre 2008

Tal pai, tal filha


Acredito na arte passada de pai pra filho, nao pela imposiçao aos filhos de seguirem a mesma carreira dos pais, o que alguns ainda fazem na epoca do vestibular; mas sim pela admiraçao que e compartilhada, muitas vezes desde a infancia, de uma paixao ou um hobby.
No meu caso, cresci no jardim, rastelando grama, limpando a piscina e cuidando dos cachorros, mas sempre acompanhando a relaçao de meu pai com a cozinha.
O domingo era o dia que ele se dedicava as macarronnadas, descobrindo novos molhos, recriando antigos, adorando fazer isso, e de verdade, ate hoje meus molhos nao chegam no dedinho de pe dos seus...Me lembro tambem das carnes de panela, dos churrascos e mesmo das belas mesas de queijo e vinho que sao montadas ate hoje com a ajuda de minha mae, sempre usando a comida como um meio de relaçao, de receber os queridos e oferecer algo a eles de coraçao. As grandes festas ainda sao ate hoje carinhosamente planejadas e discutidas com as cozinheiras da familia, eu e a Seiko, minha sogra, para que façamos sempre algo gostoso, novo e que agrade a maioria.
Minha vo Norma tambem tinha essa relaçao com o alimento, realizando verdadeiras festas antes das festas nas maratonas dos docinhos e bolos que preparava para os casamentos e aniversarios em geral de toda a familia. Sentavam-se todas as mulheres em volta da mesa para enrolar e colocar nas forminhas os brigadeiros, olhos de sogra, beijinhos, moranguinhos, bananinhas, e tinham sorte aqueles que conseguiam raspar as travessas, se lambuzando de doce com a grande colher de pau... Dela tambem me lembro do nhoque, de ve-la enrolando um por um no ralador para deixa-lo leve e oco para o molho penetrar, de suas unhas vermelhas num vai e vem delicado e constante, enquanto conversava com os outros. Lembranças que marcaram de maneira afetiva tambem a minha relaçao com o cozinhar.
Cozinho para meus mosqueteiros todos os dias, raramente para o Dartagnan pois ele nao da muito palpite, talvez nao encontre espaço; mas tenho recebido tambem amigos de origens variadas para jantar e me aventurado na cozinha para satisfazer os paladares diferentes.
Para o amigo indiano que nos presenteou com um pouco de mostarda e uma receita de batatas, cebola e azeite, tentei nao arriscar muito, e ele veio acompanhado pela colega japonesa, cuja culinaria ja conheço um pouco melhor. Acabei preparando uma macarronada que faço sempre, de molho branco com champignons de Paris e cenouras raladas, acompanhadas de coquilles St Jacques (conhecidas em portugues como vieiras), prato que meu pai ja enriqueceu no Brasil acrescentando vinho branco e frutos do mar; e abobrinhas refogadas rapidamente no azeite.
Ja me diverti bastante tambem cozinhando em conjunto com minha amiga francesa Sabine, ela preparando na ultima vez fatias de lombo com maças cozidas, e eu entrei com nosso arroz e feijao, deliciosamente acompanhada por um tinto ou mesmo uma sidra (a deles nada tem a ver com a nossa...)
De qualquer forma, me parece que no servir o alimento ao outro, esta toda a intençao de nutri-lo, de abastece-lo de algo que e seu, de uma energia que foi utilizada no preparo desde a intençao ate a pratica, e isso interfere no resultado final. Posso ver nitidamente isso na minha torta de frango, que varia a cada dia, conforme meu estado de humor; e tambem nos pratos preparados pelo meu pai por aqui, que tentei repetir e que ao meu ver nao ficaram exatamente como os dele. Ai mora a magica da pitada, a liberdade de dar a sua cara ao preparo, o seu toque... bon apetit.
A culinaria japonesa que aprendi na casa dos Amino merece outro capitulo...

vendredi 24 octobre 2008

Relaçoes culinarias


Mesmo sendo apenas um dos alimentos dos quais precisamos para viver a nossa aventura terrena, a comida rende muita conversa, aproxima pessoas, culturas e fortifica relaçoes.
Por aqui, e basicamente o que faço: acordo pensando nos menus da semana para organizar as compras, varia-las na medida do possivel, e ainda agradar todos os paladares. E um otimo exercicio, pois os "conselheiros gustativos" de casa acrescentam, diminuem e inventam novas misturas a cada prato servido. Somente o Iago come qualquer coisa sem questionar, hihihi...
De fato, cozinhar e algo inacreditavelmente livre, uma pitada a mais ou a menos de um tempero muda a cara, o gosto, o aroma do prato... podemos nos inspirar nas estaçoes do ano, as frutas e verduras da estaçao, o clima, casando com as vontades de cada um.
Tenho usado muita abobora, na sopa das crianças, no ensopado com carne; mandioca na Vaca Atolada adaptada, abobrinha refogada rapidamente no azeite, pratos misturados, inventados, com ideias dos meninos, da internet e dos livros que ganhei da Marcia e da Dani.
O que ganhei da Marcia foi escrito por uma japonesa que mora em Nova Yorque e ama a comida caseira da mae. Muito bonita a poesia com que descreve como fazer os pratos, se lembrando de quando ia comprar os ingredientes com a mae pelas ruas de Toquio, a a maneira carinhosa e dedicada que cozinhava... comidinhas simples, de dar agua na boca. Homenagem da Marcia a sua mae (ate sinto o perfume das sopinhas da vo Seiko fumegando no fogao...) e a mim tambem, pois me consacro a arte noite e dia com a mesma dedicaçao. Ja fizemos um Yakissoba adaptado, carne e frango com arroz e legumes, trocando acelga por endivia e cebolinha por alho-poro...Mas ainda falta coragem e persistencia para tentar o delicioso tempura. Continuaremos as experiencias...
A Dani me trouxe o livro do Olivier Anquier, O Diario do Olivier, contando suas andanças pelo Brasil naquele Fusquinha encantador... que delicia de livro ! Me senti curiosamente envolvida pelo livro, como se compreendesse de outra forma, um pouco francesa talvez, o seu olhar tao entusiasmado e apaixonado por tudo que se relaciona a arte culinaria e a nossa gente, aquela gente simples, pura, feliz, que ama o que faz. Ele captou de forma singular a poesia do brasileiro expressa por meio do fazer, preparar o alimento e oferecer, servir carinhosamente a alguem. Desde o fogao a lenha ate a pesca do peixe assado na beira do rio, recomendo de verdade o livro, para mergulharmos no olhar apaixonado e verdadeiro desse frances tao brasileiro... Do final do livro, experimentem a receita de camembert, simples, refinada e deliciosa, que esta tambem no site...
Pouco a pouco conto mais sobre as relaçoes culinarias que temos tido por aqui...

samedi 9 août 2008

Carta aos meus pais


Sem sentimentalismos, quero dizer de coraçao algumas coisas aos meus pais, com muita ternura e gratidao.




Obrigada por terem me dado a vida,


Obrigada por me amarem,


Obrigada por amarem meu marido e meus filhos,


Obrigada por me aceitarem como sou,


Obrigada por respeitarem minhas escolhas.




Desculpem-me por muitas vezes te-los magoado,


Desculpem-me por impedi-los novamente de acompanhar de perto o crescimento de seus netos,


Desculpem-me pelas grosserias desmedidas e insensatas,


Desculpem-me por nao ter abraçado e beijado voces todas as vezes em que tive oportunidade,


Desculpem-me por nao conseguir dizer tudo isso, so escrever.




Amo voces !

vendredi 27 juin 2008

O canto


Falando ainda de musica, como ela nos remete a um outro plano...
Ficamos alguns meses sem radio para tocarmos nossos CDs, e no dia em que ele chegou os meninos correram para monta-lo. Festejaram sua aparencia retro e escolheram musicas para ouvirem... quando chegou a minha vez, matei a saudades de uma musica, outra, lembrei de lugares, cheiros, amigos, escutei com outros ouvidos a musica que cantava, uma outra energia circulava no ambiente. Qual sera o poder da musica ?

Mas mudando de canto, indo para outro canto, queria na verdade falar do coral que assisti do Hector na semana passada... Ele nos avisou na vespera que participaria, mesmo tendo chegado ha pouco no grupo. Eles tocaram trechos de musicas compostas pelos proprios alunos, que estudam no conservatorio da cidade e tocam varios instrumentos diferentes : sax, violoncelo, violino, piano, entre outros... e em seguida encenaram um teatro repleto de pequenas cançoes contando a historia de um chapeu magico. O Hector estava enturmado, mas um pouco intimidado pela propria situaçao, mas participou lindamente, exatamente com a mesma seriedade e meiguice com que participa das apresentaçoes de musica da Agora. Alias, foi exatamente para la que seu canto me levou naquele dia... Exatamente ha 5 anos atras, quando o Carlinhos, professor de musica da Agora antecipou a apresentaçao de musica da entao 1a serie, justamente pela nossa partida a França. Os seis pequeninos tocaram uma musica de sua autoria chamada "O peixe"... e a entrega do grupo foi tao tocante, sua concentraçao e seriedade, tanta beleza numa cantiga tao simples, uma valsinha que o Hec cantarola ate hoje; e ate hoje ele me pergunta por que eu chorei naquele dia, pois para ele a musica era tao simples... Agora talvez eu saiba, e posso lhe dizer : na pureza e entrega das crianças, eles estavam ali de corpo e alma... e foi o mesmo Hector que encontrei na semana passada, passados 5 anos, no olhar, nos gestos, na expressao... a pureza de um menino que esteve ali, inteiro, naquele momento, dando o melhor de si. Bom poder ver isso...

samedi 21 juin 2008

Les fetes... as festas


Aqui ha muitas festas com a chegada dos dias mais longos, os franceses gostam de motivos para curtir a rua enquanto a noite esta clara... tivemos a Festa das maes, um mes depois a Festa dos Pais, ha uma semana a Festa da cidade onde moro, ontem mesmo a Festa de Sao Joao aqui na praça ao lado e hoje a Festa da Musica, tradicionalmente nesta data todo ano por ser o equinocio de verao.
As festas dos pais e mais pacata, diria mesmo discreta perto do evento comercial que e a nossa. So vi algumas propagandas perto da data e no domingo das festas, acredito que façam como nos, almoços em familia. A festa da cidade me fez ver como estou ficando velha... nao conhecia as musicas e nao via a hora da festa acabar ! Fiquei curiosa a respeito da Festa de Sao Joao, ate empolgada quando vi umas bandeirinhas numa rua, mas era a mesma barulheira da semana anterior, ai ai ai...
E hoje, nao intencionalmente, fomos ate Paris e vimos um pouco da Festa da Musica. O Roti tinha ido trabalhar e nos encontramos diante da NotreDame, que esta muito bonita, sem nenhuma reforma. Os meninos ficaram ate felizes quando viram o Rio Sena novamente; o Ariel disse "Nossa, ha quanto tempo nao venho aqui !!! " E passeamos pelo Quartier Latin, onde algumas bandas se preparavam para começar a tocar, muito proximas umas das outras; enquanto outras ja animadas tocavam, rodeadas de gente... ate haviam dois garotos tocando no terraço do proprio apartamento... espaço para toda e qualquer expressao ! Gente jovem e bonita, mais velha e em plena forma, familias com crianças ... tinha de tudo um pouco, e espaço pra todos (nem tanto espaço assim, as ruas estavam lotadas). Os meninos ficaram felizes por comermos num fast food pela primeira vez desde que chegamos, e o Iago agitadissimo pra dormir. Bem, chegamos em casa com um calor danado e de repente começamos a ouvir musica de novo... era o Cafe de la Poste, promovendo a versao "reginabourgienne" da Festa da Musica (devo dizer que a banda era melhor que nos ultimos dias... ); e que felizmente, porque meu sono ja esta batendo, acaba de terminar. Outras festas virao...

Alias, ha alguns dias percebemos que poderemos participar de uma grande festa, sem precisar estar presente... o 14 de julho, dia da Revoluçao Francesa que costuma ser festejado com muitos fogos na Torre Eiffel. Inacreditavel, daqui da nossa varanda vimos todos os que soltaram no dia da abertura da Eurocopa, pois apesar de nao podermos ver a Torre, sempre vimos o farol que gira em seu topo. Quem quiser pintar por aqui, esta convidado, nao sao os fogos de Copacabana no Reveillon, mas vale a pena !

lundi 16 juin 2008

Esforço


Esforço. Acho uma das atitudes mais dignas conferidas ao ser humano, sobretudo porque demanda que estejamos envolvidos em algo que nos exige, e independente dos objetivos, e rico em aprendizado e auto-descoberta.
Mas nao falo do esforço banalizado, da palavra utilizada de maneira injusta e descabida, como vemos todos os dias. Usei maiuscula para acentuar seu verdadeiro valor. O Esforço adiciona, alimenta, ensina, liberta... liberta da preguiça, liberta do apego. Mas e preciso querer se Esforçar, ninguem podera se Esforçar por cada um de nos, e somente cada um de nos conhece o gosto do Esforço sob medida, exato, suficiente, nem mais, nem menos.
Disse que ia falar dos meus meninos outro dia, e por isso falo de Esforço. Temos aproveitado este periodo de adaptaçao e todo o Esforço que lhes foi exigido para que se marque neles, de alguma forma, esta experiencia : a de que o Esforço vale a pena. Ele ressalta, enaltece, faz transparecer o que ha de melhor em nos mesmos, e as vezes de pior; e o que me parece mais importante, para nos mesmos, nao para os outros.
A lingua, a escrita, as amizades, conteudos nunca vistos, tendo de ser aprendidos da noite para o dia. As dificuldades, as fragilidades aparecem, mas a perseverança e o otimismo tambem. Procuramos manter a tranquilidade, e salientar o Esforço ao inves das notas, que, de verdade, nao tem importancia se nao forem carregadas desse impulso de superaçao. E vimos brotar nestes seres que vieram da gente, essa luz de busca, busca daquilo que nao foi ainda atingido, e talvez nao sera... mas nao e a busca que importa ???

Hoje, somente hoje, entendo talvez o Esforço ao qual se referia meu pai, quando tambem nos ajudava nos estudos, e vejo feliz brotar pouco a pouco na vida de meus filhos, e na minha tambem...

mardi 10 juin 2008

Necessidades basicas




E

curioso passar algum tempo sem estar cercada de apetrechos com os quais estamos acostumados a estar todos os dias. Hoje, uso a palavra curioso, ha dois meses atras diria pavoroso...
Ao chegarmos no apartamento recem alugado pelo Roti, ficamos impressionados com seu tamanho, parecia ter mais de 77 m2... e claro, estava vazio... Ainda hoje acho ele grande, mas naquele dia fiquei impressionada com tanto espaço !
Tinhamos dois colchoes de solteiro, um de casal e um inflavel. As crianças se revezavam pra nao deixar a vo Marly no inflavel, mas so depois de alguns dias...O Iago tambem tinha seu colchao, mas sem o berço; montamos entao uma pequena barraca que eu trouxe, pra ele nao sair rolando pelo chao. Nos dois primeiros dias ja tinhamos a panela de arroz eletrica e a caneca de ferver agua, o que nos ajudou bastante, tinhamos cafezinho fresco e arroz pra comer ! Brincadeiras a parte, nos primeiros dias foi tranquilo, chegou uma placa de induçao e panelas para eu cozinhar, alem das camas (apesar das dos meninos terem vindo sem estrado, hihihi). O problema maior foi o tempo que demoraram pra chegar a geladeira, o aspirador e a maquina de lavar roupa... quase um mes.
A bicho-grilo de meia tigela ficou desesperada com o carpete, limpavamos com vassoura e um aspirador que desligava quando esquentava; a varanda ate que serviu de geladeira, pois estava bem frio; mas eu ia ao supermercado todos os dias, coisa que nunca gostei de fazer... Mas nao havia jeito, tinha muito o que cozinhar... E as roupas ? Tentamos usar o maximo possivel a mesma, e depois iamos em comboio cheios de malas a lavanderia. O Ariel adorava, tomava o chocolate quente da maquininha da lavazza feliz da vida.
A primeira a chegar foi a geladeira, mas o entregador a levou embora, pois nao tinha quem o ajudasse a subir as escadas do predio. So faltou eu implorar pra que ele deixasse na porta, eu tentaria leva-la ate o ape com a minha mae, imagina ?! Subi em prantos, nunca pensei que choraria por uma geladeira ! Fiquei surpresa quando duas horas depois ele voltou com dois amigos e minha querida geladeira, tocado pela minha historia (disse a ele que tinha que alimentar tres meninos). O Hector, tomado pelo impulso de gratidao correu pra buscar um troco de seu cofre para eles, ele tambem devia estar cansado de ouvir falar no assunto. Hoje podemos tomar sorvetes e cervejas graças a ela ! O resto das coisas cancelamos e compramos de novo, em outra loja. O fogao tambem veio encantado, exatamente a tomada especifica para ele nao funcionava. A essa altura, eu ja achava normal, que zica !
Nossa ultima aquisiçao foi o carrinho do Iago, eu ja estava ficando com dor nas costas de carrega-lo na cadeirinha, e um som. Foi gostoso ouvir musica de novo, melhorou ate o meu humor !!
Voces podem me perguntar como foi pra mim essa aventura, ou achar que e um exagero a maneira como escrevi; mas o que foi mais incrivel foi perceber depois de tudo a triste dependencia que tenho daquilo que esta ao meu redor, a ponto de me deixar levar ao desepero, quando completei um mes sem algumas coisas. Tudo que digo que sou, nao sou coisa nenhuma, mas pelo menos eu posso perceber isso de verdade. E so mais uma historinha que eu me conto... bicho-grilo ?!

E como antigamente era possivel viver sem geladeira ? Pegando a comida no quintal : o porco, a galinha, os ovos, as verduras, tudo fresco, pra que geladeira ? Cozinhando no fogao a lenha, que delicia !
Aspirador ? Se o chao e de terra nao ha necessidade... Maquina de lavar ? Com a agua do rio, do poço, nao era assim antigamente ?

Sera que nasci na epoca errada ou e so uma visao poetica que tenho do que nao vivi ?

jeudi 5 juin 2008

O pequenino grande Iago


Ontem o Iago fez dez meses de vida, aproveito entao pra falar um pouquinho do Sansao aqui de casa... Sansao porque quanto mais cresce seu cabelo, mais forte fica o danado...
Sou muito grata pela sua existencia, por ter me proporcionado a realizaçao de um sonho, de ter um parto humanizado. Tenho certeza que foi uma das experiencias mais incriveis da minha vida, e do Roti tambem, algo que todas as mulheres deveriam passar, afinal elas foram dotadas desse dom, o de dar a luz, e deveriam ser um pouco mais resistentes as cesarianas... Para o pai tambem, e emocionante participar de algo tao divino como o nascimento de um bebe, do instante em que um dedo de Deus toca a Terra.
Senti de verdade que somos mesmo intermediarios, e temos este privilegio, entre algo maior e a perpetuaçao do milagre, da vida humana na Terra; senti que naquele instante nao era eu quem agia, algo agia por mim, sabia o que fazer, como fazer... nao era eu, mas essa energia, esse fogo dos ceus passou por mim e deixou uma marca para sempre... essa presença que me guiou durante as trinta e sete horas de trabalho de parto e me alimentou para permanecer ali, tranquila, deixando que tudo acontecesse. Agradeço de todo meu ser este presente...
Essa figurinha que cresce e muda a cada dia, que suga todas as minhas energias, mas me retribui com surpresas diarias, risos, carinhos, artes e teimosias... afinal, e assim que todo bebe aprende, nao e ? Pequeno, mas grande quando quer ou nao quer algo, engraçado quando ri das bobagens que fazemos e repetimos pra que ele continue rindo; independente quando sai engatinhando aventureiro pelo apartamento; observador quando olha seus irmaos brincando de lutar(daqui a pouco estara lutando junto); delicado quando entende como deve tocar os geranios da varanda; dengoso quando brinca de narizinho com o papai; desesperado quando o Hector engatinha correndo atras dele pelo corredor; feliz quando o Ariel chama ele de naninha ou deixa ele brincar com seus bichinhos de pelucia... Que gostoso ve-lo descobrindo a ducha que espirra no rosto na hora do banho, se divertindo com o barulho que faz quando ele sopra a minha barriga, quando avança no pao fresquinho que compro com ele, dançando desajeitado, se atirando nos braços do Roti...
Enfim, que esse tico de gente traz muita alegria pra casa, e bagunça tambem, e verdade e como diz o Hector, "que bom que o Iago existe, ne mae ?"
Nos proximos, me dedico aos meus garotos cabeludos, ok ?
Bisous

mercredi 4 juin 2008

Marche de Bourg la Reine


Hoje e dia de Marche aqui embaixo de casa. As 5h da manha ja podemos escutar o entra e sai do grande galpao onde acontece a feira, nada tao barulhento como nossas feiras por ai, mas bem parecido em forma, cor e movimento. Assim, conseguimos terminar a noite de sono por mais duas horas, ate começarem a montar as bancas externas, onde vendem roupas usadas, novas, bijous, sapatos, panelas, flores artificiais ...
Mas a grande festa rola dentro do galpao, ainda mais na hora de pico, entre 11h e 12h. Neste periodo da pra trombar com carrinhos de bebes e de compras, de tanta gente perambulando pelos corredores (onde me senti num labirinto, me perdendo no primeiro dia).
Eles tambem "gritam" para chamar a atençao de seus clientes e abaixam o preço quando se aproxima o final da feira, mas o interessante e que a feira e um evento social, nao so para os clientes , como tambem para as feirantes que trabalham muito bem vestidas e maquiadas, com as escovas em dia e tudo. Os homens ja nao se preocupam tanto com isso, um gel no cabelo dos mais jovens e o maximo que vejo... Ja as clientes, aproveitam para colocar a conversa em dia nos corredores; e as babas (que existem aos montes por aqui), estao pra la e pra ca com as crianças que tomam conta aparentemente entediadas no carrinho. Agora que o Iago esta de carrinho tambem, sera mais um entediado nos meus dias de compra ...
E o que mais gosto no evento Marche sao as encantadoras bancas de frutas, verduras e legumes... Todas as frutas brilhando, ajeitadinhas umas ao lado das outras, com a luminosidade a valorizar seu encantamento... ah os morangos vermelho vivo e perfumados, as framboesas bem ao seu lado... as cerejas que acabam de chegar, firmes e brilhantes, mesmo os meloes e melancias, abertos para degustaçao com aquele corte triangular...
As bancas de verduras nos lembram as hortas organicas, abarrotadas de verde por todos os lados, humidas para exalar seu perfume de terra, da pra comprar rucula e uma mistura de saladas ja lavadas. E os champignons ? Creio que o outono sera seu pico, mas ja gosto de ve-los timidamente na banca, champignons de Paris, Pleurottus, Shitake e outros mais que ainda nao experimentei.
Passo pelos açougueiros, de carne de vaca, porco, aves, devidamente separados, e me aproximo mais da peixaria, sem nenhum cheiro de peixe, cheio de nomes ainda desconhecidos para mim... e fico com o velho conhecido salmao.
Nao poderia deixar de finalizar com a Fromagerie, pois, segundo minha querida amiga Sabine, j'ai un bon fromager; Le Petit Prince, chama a sua banca com queijos incrivelmente fedidos e saborosos...
Ufa, acho que por hoje ta bom, ne ? Vou preparar o almoço... Salut !

mardi 3 juin 2008

Oi, criei um blog !


Bom, todo mundo sempre me disse que eu devia criar um blog ... vamos ver agora como é que eu faço pra escrever... a distancia sempre me inspira, quem sabe da certo ?
De novo estamos nos aqui na França, eu que dizia pra mim mesma que nunca mais iria voltar, logico, antes de retornar ao Brasil...
O Brasil com o qual eu sonhava em 2005 é a França com a qual eu sonhava em 2008, ou seja, nada é exatamente como esperamos. Quando estamos longe, nos lembramos das coisas boas, daquilo que nos faz falta; nos lembramos curiosamente das virtudes das pessoas que deixamos, porque quanto mais estamos longe fisicamente das pessoas, mais proximos ficamos ... dificil isso, nao ? Vou tentar explicar ... quando estamos numa festa de familia, conversamos sobre coisas tao banais, que, muitas vezes, nem mereceriam ser faladas; enquanto que, longe fisicamente, os dialogos via e-mail ou telefone sao bem mais interessantes, profundos e mesmo sinceros.
Acho que agora sei um pouco o motivo de ter voltado pra ca ... retomar um sentimento essencial que surge de relaçoes verdadeiras, e que, as vezes, a falta e a distancia que despertam, pois envolvidos no cotidiano, estamos mergulhados facilmente na hipocrisia. O sofrimento da falta me aproxima de alguma forma da minha essencia.
Reflexoes, texto meio corrido, ensaio pra começar, desculpem-me se ficou confuso...
A bientot