samedi 27 juin 2009

Crianças de hoje.


Olho para os meus meninos e me pergunto se eles têm uma boa infância, se crescerao sadios, questionadores e ativos, respeitando os outros e o ambiente... E quando me pergunto o mesmo sobre as crianças que cruzo pelo meu caminho, me da até um aperto no peito. Que relaçoes as crianças deste mundo estabelecem e irao estabelecer com tudo que as rodeia ?
O que eles têm, acreditam ser de direito; nao demonstram nenhuma gratidao.
O que eles nao têm, querem à todo custo, mesmo que seja tomado.
Como disse o Le, meu amigo de infância, nao nos damos conta da maior dadiva que recebemos : a nossa vida. Nao somos gratos por isso, e nossas crianças muito menos. Vivemos tentando "ocupar o tempo", ao inves de vive-lo, verdadeiramente. Planejamos o futuro ininterruptamente - pare e preste atençao em seus pensamentos... o que nao poderiamos estar fazendo neste mesmo instante, ao invés de pensar no que vamos fazer depois... Que inversao é essa que vivemos todos os dias, fruto de um progresso caotico pelo qual somos sugados a cada minuto.

Me lembro da minha infância e vejo que a gente era mais criança naquela epoca. Andava de bicicleta na rua, sem marcha, subindo as pirambeiras e levando tombos; brincava no parquinho e jogava queimada. Na escola, corria pelas ladeiras , brincando de pega pega, e no parquinho do bosque, brincavamos numa casinha de madeira entre as sombras das arvores. O cheiro do bosque ainda esta impregnado na minha memoria.
Tive sorte, pois nao era tao sufocada pelas informaçoes da tv, nem precoce como as crianças de hoje em dia. Meninas que se vestem e dançam como adultas num baile funk - com a aprovaçao dos pais que, algumas vezes até dançam junto - perdem o gosto de sentir o vento batendo no rosto na brincadeira de Barra Manteiga, mesmo porque com as "sandalias da Xuxa" fica dificil correr. Meninos, mergulhados no video game, estabelecem relaçoes virtuais entre o herois que constroem para si mesmos, e deixam de viver na pele situaçoes significativas para a formaçao de suas personalidades. Têm desempenhos fenomenais no rink dos jogos de computador, mas sao incapazes de telefonar para amigos por nao saberem expressar o que querem dizer. Mas o que me pergunto é se também nao somos culpados por essa situaçao, e se o somos, como podemos modifica-las... sim, é preciso dizer basta e nadar contra a correnteza.
Se somos os exemplos, como estamos cansados de escutar, agimos como bons exemplos ?
Preferimos ficar assistindo televisao ao invés de fazer um passeio no parque com o filho ou sobrinho, para compartilhar a descoberta das formigas nas arvores, o cheiro das flores e a textura dos troncos, para sentir a grama pinicando os pés; ou ainda o contrario, nos permitir aprender com eles, observando a relaçao que os pequenos estabelecem com a natureza. Sim, observar a pureza e espontaneidade de uma criança pode ser um retorno à infância, olhar com carinho um caracol que se arrasta, brincar com os gravetos e as pedrinhas sem ligar para os brinquedos do parque, criar o seu, com o que se tem, sem precisar de nada além.
Deveria ser possivel essa troca, trazer a criança de hoje de volta ao mundo da infância de ontem e, neste fio, ligar a criança que esta escondida no meu "eu" adulto ao adulto futuro que pode brotar mais humano na criança de hoje... Pensem nisso...

mardi 16 juin 2009

Vivendo a linha 6.





La estava eu na linha 6 do metro parisiense, às 6 da tarde do dia 16. Enquanto esperava o trem para voltar para casa, uma flauta do Pan tocada por um senhor sorridente, sentado na beira do cais, me despertou para essa constataçao. Rapidamente, para comprovar o instante, saquei minha maquina fotografica e registrei a placa do cais, que confirmava o que acabo da dizer : destino Nation, linha 6, 18:00.
A estaçao era o ponto inicial : Charles de Gaulle-Etoile, que da acesso ao Arco do Triunfo, monumento construido por Napoleao Bonaparte; num cruzamento entre oito avenidas - lugar estratégico para suicidios. Como muitas outras, sao restauradas frequentemente, mas mantém os azulejos originais e o estilo do inicio do século, quando foi construida.
Sao nesses instantes um tanto quanto cinematograficos que me dou conta que estou em Paris, que tenho a chance de presenciar tudo que Paris proporciona.
Procuro pegar sempre essa linha, pois possui vistas deslumbrantes, desde a Paris turistica à Paris mais cotidiana e intimista.
Cruzando o Sena, posso avistar a Torre Eiffel, numa parte do trecho aéreo do trajeto. Ja fui presenteada com suas piscadelas durante uma noite fria de inverno, o que me aqueceu o coraçao. Ja num outro trecho, proximo à Nation, posso admirar a Biblioteca Nacional e conjunto de predios modernos, mas nao menos belos, que circulam a sua majestade, o rio Sena. Ele, que, certamente, é uma grande Estrela parisiense. Inumeras vezes contemplei-o imaginando « Puxa, bem que o Tietê podia ser assim … » Sonho ? Quem sabe um dia nao se transforma em realidade ? Suas aguas em movimento, insinuam que ha vida ali; as arvores ao seu redor, bucolizam suas margens e acolhem quem o admira. Barcos ancorados em suas aguas iluminam a noite e proporcionam uma vida encantadora em seu balanço. Sim, acho que o Tietê pode um dia ser assim !
Ainda neste saculejante trecho do trajeto, posso olhar o topo dos prédios, espiar as sacadas das varandas, quem capricha nas jardineiras floridas, quem usa o terraço como estacionamento de bicicletas e mesmo de porao ! Até o movimento da rua, dos comércios; os bistrots, festejando a chegada do verao ocupando quase toda a calçada de mesas e cadeiras, e os parisienses com uma alegria marota, se deliciando com a possibilidade de ali se aglomerarem quase colados uns nos outros. Entre um café e uma agua, podem passar uma tarde inteira - e a noite também, ja que anoitece às 10 da noite - lendo, olhando a calçada, vendo o tempo passar.
Mas a linha 6 também tem seu trecho subterraneo, que nos conduz aos arredores das catacumbas parisienses, que preferem que se chame de Ossario Municipal. O local é aberto à visitaçao, e se trata de um conjunto de galerias que existiam previamente e foram aproveitadas para a colocaçao dos ossos que lotavam o cemitério dos Inocentes, no final do século XVIII. Os ossos ja se acumulavam por la ha dez séculos ! E um passeio interessante, rico e reflexivo sobre questoes como a vida e a morte, que sugiro à todos que desejem olhar as coisas de um outro ponto de vista.

samedi 6 juin 2009

Desabafo



A palavra é perplexidade. Hoje me vejo perplexa diante de certas concepçoes na educaçao que, a meu ver, foram completamente desvirtuadas. Sei tambem que muitos dirao que sao consequencias do mundo de hoje e todo o discurso que acompanha esse tipo de justificativa, que os pais tem que trabalhar para criar os filhos, e as escolas tem que fazer o papel dos pais, etc.
Todos escutamos inumeras queixas de violencia, delinquencia e que o mundo esta cada vez mais repleto de pessoas que so pensam em si mesmas e em seus desejos materiais. Tudo bem, ha os que dirao tambem o contrario, que ha a turma da paz, que luta por um mundo mais solidario… Mas noto que sao nas pequenas relaçoes do dia a dia, que me pego absolutamente inconformada com o que vejo e como isso ressoa em mim.
Tudo começou pelo programa que assisti pela manha, chamado « Les maternelles », dedicado aos pais que precisam de orientaçao ou informaçao de como lidar com seus filhos. Ontem, o tema do programa tratava de bebes que choravam sem parar… todos devidamente presos em seus bebes conforto e muitos alimentados atraves de mamadeira. Nenhuma das maes teve a brilhante ideia de carregar o bebe como um pequeno canguru, como ela havia feito por nove meses enquanto ele esteve em seu ventre, nenhuma delas pensou que o seu cheiro e seu leite poderia curar essa angustia, nem os especialistas que la estavam. Um bebe que vem ao mundo sem receber nenhum amparo, ou o amparo suficiente nesta mudança que significa o nascimento, precisa de compreensao; e quem decide ser mae tem que arcar com a sua decisao e ser mae ate que veja seu filho seguro e independente. E assim com os animais, que acompanham instintivamente seus filhos ate que sintam que estao prontos para a vida. Quando decide-se pela maternidade, tem-se que estar consciente da mudança de prioridade na vida, que por um tempo é preciso Ser Mae, e que todo o resto é secundario. Se nao for assim, a meu ver, nao ha razao de se desejar a maternidade, pois esse desejo sera mesquinho e egoista, e os filhos desse tipo de opçao, os futuros problematicos e bandidos que vemos tanto.
Hoje, no mesmo programa, o assunto era sobre as maes que tinham feito a opçao de amamentar seu filho. Uma das entrevistadas dizia que nao sabia se queria esse tipo de contato fisico com o filho (?!) - filho esse que saiu de sua propria barriga, filho esse resultado de uma historia de amor ! Por que essas maes nao conseguem se colocar no lugar de seus filhos ? Por que nao compreendem que tambem ja foram bebes ? Algo no arquetipo feminino se perdeu, o seio, à priori, é fonte de alimento, e nao objeto ligado à sexualidade, algo se inverteu neste caso, e é preciso que isso seja dito.

No parque com o Iago, observo sempre as relaçoes pais e filhos, babas e suas crianças. E tudo muito distante, como se cada um vivesse dentro de seu proprio mundo - as crianças com seus olhares perdidos e os pais, perdidos em suas ligaçoes telefonicas. Graças à Deus, porque Ele ainda olha por elas, existem exceçoes… e se vê na expressao de uma mae que carrega seu filho no colo o amor em abundancia… Nao falo de permissividade, de mimo, de super proteçao, mas pura e simplesmente de amor.

E um pequeno de seus 3 anos, que se arrastava pelo chao de pedrinhas e areia, brincando com seus bonequinhos e transformando sua vida por meio das relaçoes entre os bonecos foi obrigado a, primeiro escutar as pessoas que nunca foram crianças em volta dizerem que « ele brinca assim pois nao é ele quem lava a roupa « ; e em seguida, a abandonar seu jogo saudavel porque seu pai, incomodado com os comentarios alheios, partiu, tentando leva-lo o mais carinhosamente possivel… Faço questao de me sentar no chao, de brincar de pega pega com o Iago, entrar no meio do mato, de acompanha-lo, para que vejam que é disso que uma criança precisa : de compreensao e interaçao.

Que mundo é esse, como somos cegos ao ponto de nao perceber que nos mesmos criamos os neuroticos e delinquentes do futuro, ao ponto de continuarmos a viver dentro de uma bolha onde so interessa « o que eu quero, o que eu gosto, o que é bom para mim ».
Aqui na França, ai no Brasil, em todo lugar do mundo, criança é criança e deve ser tratada como criança. E so saberemos como olha-las quando olharmos pelo seu ponto de vista, quando nos lembrarmos que ja fomos como elas. E como tudo é mais simples quando somos pequenos, so precisavamos de AMOR.

Sera que seremos capazes de nos livrarmos da nossa arrogancia e assumirmos nossa ignorancia, admitindo o quanto perdemos ao abrirmos mao da criança que mora em nos ?
Que todos estejamos abertos ao novo olhar que proporciona o contato e o respeito à criança, que possamos aprender mais e mais com elas, com sua pureza autentica de viver a vida.
Com muito mais a dizer, paro, ja foi feito o desabafo