mardi 31 juillet 2018

Mala dos Anseios

É uma grande sorte poder preparar uma mala com antecedência. Imaginar qual mala escolher, como estará o tempo pra começar a escolher que tipo de roupa deverá levar...Imaginar as combinações é começar a saborear os reencontros, as ocasiões que surgirão, a atmosfera acolhedora e reconfortante de rever queridos ou de conhecer outros que virão também a ser.
É o momento que já começa a fazer parte da viagem, como os preparativos de uma festa também fazem parte dela...Momento de se dar conta que se tem mais do que precisa, da necessidade de trabalhar o desapego e ser menos consumista. De se desfazer...
Quando o destino é o nosso lar de coração, a vontade é distribuir lembranças pra comemorar o reencontro
, mas a gente logo percebe que uma mala é pouco se for levar um agradecimento pela existência de cada um deles... Acabo esperando que a minha presença possa preencher essa gratidão...
Agora só quero saborear o momento de fazê-la, de cada pedaço de vontade minha que vou colocar ali, de anseio de vida que virá. 
O presente preparando um possível futuro, que trará certamente cores e gostos do passado pra salpicar a realidade que viverei. Agora é contagem regressiva.

lundi 30 juillet 2018

Destino incerto, caminho traçado

Dia de comprar o material escolar do primeiro ano de ginásio do Iago. Três vezes mais matérias, três vezes mais confusão. Cores de capas, tamanhos e quantidades de folhas eram os critérios somente dos cadernos...sozinha em meio à tudo aquilo, lembrei da agilidade do meu filho do meio, aniversariante de hoje. Ariel sempre teve uma autonomia que me surpreendeu... como se o mundo estivesse esperando ansiosamente por ele. Engatinhou aos sete meses, não podia perder tempo. Com seu sorriso carismático escorregava por entre nossos lençóis no finalzinho da manhã, antes da gente se preparar pra ir pra escola. Sempre ousado e entusiasmado, nunca se preocupou em ser confundido com uma menina pelos longos cabelos ou por gostar de rosa. Ele estava muito acima de tudo isso... Como se soubesse que mesmo sem destino certo, ele teria o caminho traçado. Desde que chegamos na França quis fazer o máximo que pode sozinho, de ir à escola à comprar seu material escolar; de resolver as encrencas do colegial à decidir os primeiros rumos dos estudos superiores...
Por isso durmo tranquilamente todas as noites, mesmo sem falar com ele há semanas, mesmo não falando com ele no dia dos seus vinte anos... ele sabe que confio em sua confiança, e que meus braços estarão sempre lá quando ele precisar...mesmo aprontando as dele, e me deixando na mão vez ou outra. Já tive vinte anos e sei que como é. Beijos salgados de lágrima na sua bochecha salgada de mar, filho, ...tamo junto !

dimanche 29 juillet 2018

Um grande reencontro

Depois de uma hora e meia de estrada, muito verde e um pequeno trecho de estrada de terra, chegamos para buscar nossos filhos no Acampamento dos Escoteiros. Escuto uma voz familiar gritando por trás das árvores : "As mães chegaram ! As mães chegaram !"...veio correndo para aquele abraço gostoso, como se o tempo parasse pra gente se sentir pertinho de novo. Nos meus braços ele me diz ao pé do ouvido que recebeu minha carta há dois dias, e o abraço dura mais alguns segundos de um silêncio cheio de amor. Eu diria que ele até cresceu em uma semana, em altura e maturidade.
Carro cheio, o jogo Uno rolando no banco de trás. Quanta energia cabe nesses pedaços de gente ?!
De volta pra casa, um jantar recheado de histórias incríveis, da construção do fogão com barro e madeira, aos jogos de equipe onde se colocaram na pele dos nuggets, se empanando na farinha e rolando e se arrastando na grama. Dos banhos de água fria, da responsa na cozinha, às promessas de engajamento.
É filho, foi mesmo um bocado de coisa essa semana... você ficou maior não só por fora, mas por dentro também.

samedi 28 juillet 2018

Sardinhas Pequeninas

Fomos molhar nossa parcela na horta. Soube ontem que ia rolar um churrasco de sardinha hoje à noite, mas sardinha, sei lá...só me fazia pensar em sardinha em lata.
Momo estava lá, com 4 kg de sardinha cortando gravetos e verdadeiros pedaços de lenha pra fazer o fogo. Roti logo se prontificou a ajudar. Daqui a pouco percebo que todo mundo foi embora, e Momo ali, com 4kg de sardinha. Não podíamos deixá-lo lá assim. Decidi preparar uma salada em casa, cortei uns melões e voltei pra lá. Roti ficou limpando as pequeninas sardinhas do mediterrâneo, que de tão pequeninas nem cheiro tinham. Outros foram chegando, e bo final eramos nove.
As sardinhas me lembraram os lambaris fritinhos que a Seiko pescava, limpava e fritava. Minha idala !!! E ao experimentar aquelas sardinhas suaves com os dedos,  mais uma lembrança ! A das sardinhas na telha feitas na praia de Itanhaém pelo meu pai, na frente da casa do tio Edu. Uma abajur de luz alaranjada clareava a sala à meia luz para que as crianças enfim dormissem.
Hoje, vamos também custar a dormir, depois de muitas sardinhas crocantes, abobrinhas e tomates grelhados colhidos no instante.
Até um carro queimou no terreno ao lado para permitir que as batatas perfumadas de alecrim esfriassem no aluminio. Os bombeiros chegaram rapidamente e apagaram o fogo. Voltamos para a horta terminar o churrasco, as batatas e a sobremesa.
Cheirando à fumaça e à sardinha, volto pra casa, marcada por essa noite entre novos amigos, sardinhas e um carro queimado... nada como um sábado a noite improvisado !

vendredi 27 juillet 2018

Solidez na solidão

Essa semana que tive comigo mesma está pra acabar. Muitos acharam que eu não ia sobreviver. Por que  eu não suportaria ficar só ? O estereótipo da mãe que vive em função dos outros, e que o machismo alimenta. Nossa, tadinha dela, sozinha, sem ninguém pra cuidar. E se eu pudesse cuidar de mim mesma ? Alguém chegou a pensar nisso ? E se fosse uma bela ocasião pra eu escutar à mim mesma, fazer um balanço do que sou, do que não quero ser, do que ainda posso vir a ser ? Não, não sou só uma mãe tempo integral. Nenhum dos meus filhos precisam mais de mim à esse ponto...eduquei-os pra isso.
Pra ver mais longe...Será que somos tão pequenos, que nossa existência depende a esse ponto do outro ? Agora posso dizer verdadeiramente que não. Você tem a opção de viver em função do outro, ou de viver bem consigo mesmo e assim, ajudar os outros.
Foi o que fiz esta semana : respeitei cada pedacinho de mim mesma, acompanhei de perto as vontades, os desejos, e os não desejos. Vi de perto a indecisão libriana, a angústia do tempo que passa, a solidão deliciosa que é estar somente em silêncio, consigo mesma. Que estar sozinha não é estar só. Que é uma grande sorte poder viver assim, sem arrependimento de ter escolhido isso. E sugiro à todos essa experiência... vocês poderão se surpreender...


jeudi 26 juillet 2018

Amor de avós, é desatar os nós

Iaia, hoje festejam o dia dos avós lá no Brasil. Acho que, como dia das mães, dos pais, das crianças, esse dia deveria ser festejado todo dia, pois é mais um dia de amor e respeito que devia ser reconhecido...
Cresci bem pertinho dos meus avós maternos, o teu biso e a vó Norma, que você não chegou a conhecer. Todo o carinho em forma de comida, de passeios e de broncas que vivi, foram essenciais para que eu viesse a ser o que eu sou. Não percebia naquela época, fui notando quando as lembranças dos momentos que vivemos juntos foram vindo à tona, com um gostinho especial de infância acolhedora, de se sentir querido e seguro perto deles...algo único e insubstituível.
O Hector e o Ariel tiveram também, desde que nasceram até o fim da infância, a presença constante dos avós por perto. E eles tiveram direito à tudo : todos os avós estavam ainda lá : a vó Marly pra bagunçar o coreto, o vô Ari pra construir dedobol e jogar bolinha de gude no jardim, a vó Seiko pra garantir que comessem tudo o que sonharam e o vô Cinzo, pra que tudo de bom e de melhor chegassem até eles, inclusive seu amor. Você, Iaia, não teve tudo isso. 
Te privamos dessa convivência profunda com seus avós quando você tinha 7 meses. Talvez tenha sido um dos motivos que me fez me dedicar tanto à você...secretamente tentar te dar esse amor que recebi e do qual te privava. Parece que só hoje consigo viver essa constatação dentro de mim.
Mas você, meu filho, mais uma vez me ensina que o amor escorrega por onde vê passagem...nunca deixou de sentir, de lembrar, de citar e de amar sem restrições esses avós distantes, esse amor que você recebeu em doses homeopáticas e nunca se reteve em retribuir. Nos seus abraços matinais, na sua presença constante ao lado deles a cada vez que lhe pediram, você soube absorver esse amor diretamente, provando que toda maneira de amar é válida. E que você, da sua maneira única, perpetua esse amor recriando-o á distância, sem a pieguice e sentimentalidade que poderiam aparecer; só com a pureza e a sinceridade que deve haver.
Obrigada filho, por existir e me mostrar que o amor ultrapassa tudo que podemos imaginar.

mercredi 25 juillet 2018

Não é só um assunto meu.

Não posso deixar de falar nisso hoje. Foi o que mais me tocou, e acho importante.
Os homens talvez não imaginem o que é ir ao ginecologista pelo menos uma vez ao ano.  Eles não vão ao urologista com a mesma frequência, algo no mínimo estranho...
Aqui já estou na quarta em dez anos. Sendo que levei bem uns três para ir pela primeira vez. Não foi a consulta mais relaxante do mundo, me senti julgada pelo meu percurso, e não seria a última vez.
O destino me fez encontrar um outro gineco de origem uruguaia. Falavamos de churrasco enquanto ele queria me empurrar um anticoncepcional. Outro que me achou a louca de parir depois de três cesárias. Fui.
Fui sim...parar numa madame. Nem na cadeira da sala de visita eu me sentia à vontade...imagina com ela, me examinando de tailleur e luvas cirúrgicas...
Hoje fui numa indicação de uma amiga. A sala de espera parecia uma sala de aula waldorf...pena que não fiquei muito. Ela chegou toda colorida, cabelos curtos num corpo forte e delicado ao mesmo tempo.
Poucas questões, pelo contrário...perguntava quais seriam as minhas questões. Mesmo tendo se surpreendido pela minha VBA3C, nada acrescentou quando eu disse que procurei um especialista pois queria parir. Mas o que mais me surpreendeu, é que pela primeira vez me perguntam numa consulta se fui vitima de algum tipo de violência. Uma oportunidade única para refletir sobre o percurso dos meus relacionamentos, que deve se abrir para cada uma que ali passa, que ali se abre, timidamente, mas porque fomos ensinadas assim.
Constrangedor mas indispensável; se a cada pergunta como essa pudéssemos visualizar nosso caminho, cada um que passou, gestos que começamos a compreender, outros tantos que tentamos esquecer.
Não é fácil ser mulher, não são poucos os constrangimentos que iremos passar na vida, mas, cada vez mais, vejo que um mundo começa a se abrir diante de nós. E que temos que nos lançar nele, completamente. Como ouso fazer nesse texto.


mardi 24 juillet 2018

Aconchego concreto

Debaixo de calor sufocante enfrentamos trem e metrô...por uma exposição à céu aberto. La Defense acolheu artistas contemporâneos, e pudemos eu e Marie Paule conhecer um pouco mais da Esplanada que leva até o arco moderno que podemos ver do Arco do Triunfo, e mesmo da Praça da Concórdia.
Uma fonte tentadora anuncia a exposição itinerante, rasa demais pra gente se atirar de cabeça. Muitos não se importavam, e ali se sentaram de roupa e tudo, pra tentar diminuir a sensação canicular.
Um banco gigante, uma senhora sorridente em meio à girassóis em forma de labirinto, faziam os prédios desordenados em espelho e concreto parecerem mais aconchegantes. Lençóis secavam nos terraços e jardins do último andar se revelavam quando ousávamos olhar o céu.

Em meio à árvores pintadas de branco, belos jardins floridos. Uma casa invertida brota no centro. Enquanto um carro vertical se dirige à uma nuvem branquinha no céu, as abelhas faziam a festa nos girassóis. Sim, as abelhas, que sabemos hoje serem tão preciosas, se esbaldavam profundamente no néctar dos 4000 girassóis.
Floreiras em motivos orientais decoravam os restaurantes ao lado do que paramos para nos recuperarmos. A conversa foi sendo colocada em dia, enquanto uma pequena brisa e bebidas nos refrescavam. Reflexões de duas mulheres que começam a perceber o quanto são escravas de suas próprias ditadoras internas. Talvez o primeiro passo para a liberdade...
E enfrentamos o caminho longo de volta, em mais um dia escaldante da Paris que merece ser vista de todos os ângulos.

lundi 23 juillet 2018

Proximidade à distância

Iaia, te escrevi uma carta hoje, como se estivéssemos conversando na hora do lanche. De uma certa forma entendi porque gosto de escrever, pra reencontrar esse gosto de um diálogo sincero. Foi uma das primeiras coisas que fiz, depois de arrumar os teus playmobis que separamos pra levar pro Joca. Te contei como foi dificil fazer planos pra essa semana, minha indecisão libriana estava à toda. Não consegui ainda definir minhas prioridades para os próximos dias. Perdi um bocado de tempo tentando, mas tudo vai se desenhando... Esses dilemas estranhos me mostram o quanto o tempo ainda me aprisiona. Prisioneira do tempo, com a sensação de perdê-lo, de não vivê-lo plenamente... 
Pela primeira vez não estou preocupada contigo. Teu sorriso ontem à noite me tranquilizou. Tinha um bocado de segurança e maturidade nele. Ele me dizia o quanto você estava feliz em partir e passar uma semana na natureza, conhecendo um novo ambiente, pronto para enfrentar as dificuldades que aparecessem, ansiando mesmo por isso. Foi tão reconfortante poder sentir isso em teu olhar.
Tuas duas mãozinhas acenando da janela do carro me deixaram leve, me fizeram partir abraçada pelo calor gostoso do começo da noite, que me acompanham até agora. 

dimanche 22 juillet 2018

Só e bem acompanhada

Leio ou arrumo os brinquedos ? Como ou tomo banho ? Espera, posso comer quando tiver fome...se tiver. Vejo Netflix ou escuto música ? Posso fazer até várias coisas ao mesmo tempo... acho que nunca experimentei essa liberdade...
Primeiras horas sem nenhuma obrigação. Nem reais, nem imaginárias. As reais são comandadas pelas horas, do almoço e jantar. Mesmo nas férias, tudo que diz respeito às refeições são minhas preocupações, e ocupações. Dividir o dia pra que seja prático, rentável, organizado. Uma grande carga mental diária. A não ser quando viajamos, essa obrigação me persegue, como se eu tivesse que pensar nisso todos os dias. Um hábito que se infiltrou na minha vida, e da qual raramente consigo me livrar... E é à noite que meus medos e inseguranças mais profundos aparecem e exigem uma ação, o que às vezes acaba sendo estranhamente uma ajuda...
As imaginárias, todas as obrigações que imponho a mim mesma, como se cada minuto de ócio devessem ser pagas em trabalho. Me transformei numa escrava da casa. Essas correntes que arrasto comigo estão longe de se romper, mas agora eu as vejo.
Como encontrar um equilíbrio no exercício da maternidade ? Como dividir de forma justa as responsabilidades de uma família ?
Iago volta domingo que vem, Roti sábado, Hector em agosto, Ariel em setembro...eu estarei completamente só por cinco dias, depois de 23 anos. Experimentar cinco dias sem me preocupar com a minha família é um grande desafio, saber aproveitar desse tempo precioso, viver encontrando minhas  prioridades do momento será muito interessante... registrar essas impressões escrevendo, uma alegria.

samedi 21 juillet 2018

Nossos lobos

Ouvi uma indagação hoje. A de que temos dois lobos dentro da gente, um lobo bom e outro mal. Surgiu a dúvida de qual deles seria o mais forte. A resposta me interrogou no mesmo instante : mais forte é aquele que alimentamos.
Não posso viver sem um deles. Certamente muitos gostaríamos de matar o nosso lobo mal, aquele que sente fortes e doloridas emoções, aquele que me põe de cara com atos e reações até então desconhecidos. O que demoramos a aceitar é que sem ele, não existiria o bom, aquele que temporiza e acalma o mal . 
O lobo mal fala de lados que evitamos, que não queremos muito reconhecer. Admitir sua existência permite a aproximação de uma parte mais obscura, permite um conhecimento de partes desconhecidas de mim mesma. Não necessariamente más, mas que, se eu chegar perto, verei que podem prejudicar a mim e aos que estão ao meu redor. Ele é agressivo, egoísta e até histérico. Mas o que ele quer, de uma certa forma, é me proteger. 
E o lobo bom acolhe e compreende o lobo mal. Se ele não puder encará-lo, não poderá compreendê-lo, e se nâo puder compreendê-lo, nunca será o mais forte.
Se achamos que só temos o lobo bom, somos cegos arrogantes. Se só conseguimos ver nosso lobo mal, somos tristes inseguros.
A harmonia entre eles, essa aproximação e escuta de um pelo outro, me parece ser o caminho do mais forte...nem um, nem outro; os dois, juntos. A alegria e a tristeza, a luz e a escuridão. Desafio para toda uma vida nos aproximarmos dos nossos lobos, apresentar um ao outro, reconciliá-los.


vendredi 20 juillet 2018

Fruto maduro

Quando as flores e folhas secam e apodrecem fazem parte do ciclo da vida, adubando o terreno para que outras venham, por sua vez. Não é exatamente o caso dos frutos.
Corri rapidinho pra tirar uma abóbora que não vingou da minha horta, pra não contaminar as outras que ainda viriam.
Tive o pressentimento que isso poderia fazer sentido também na nossa vida. Sabe aquela história de vó que a gente cresce escutando...que uma batata podre apodrece todas as outras ? 
Talvez sejamos flores e folhas, esperando seguir nosso destino : enquanto flores, polinizando ou sendo polinizadas; enquanto folhas, exercendo nossa função de alimentar todo um sistema, de produzir substâncias.
Mas um fruto..., ah, um fruto é complexo, é o resultado primoroso - ou desastroso - é,  realmente, o encontro de inúmeros fatores. O encontro das partes para gerá-lo, e todas as condições que ele necessita para se desenvolver plenamente. Quando "maduro", chegou ao auge de seu desenvolvimento. E lá, um fruto maduro e podre pode causar um bom estrago... apodrecer aqueles que estão ao redor, sejam novos ou não.
Já um belo e desenvolvido fruto, que cresceu com todas as condições necessárias para se realizar, irradia, alimenta, nutre...a si e todos aqueles que estão à sua volta... somos ou não somos frutos ?
Voilà, reflexões que me presenteiam minha horta, e que registro e partilho aqui...

jeudi 19 juillet 2018

Tarde à beira do Sena

Nuvens cinzas e reconfortantes passam sobre a Notredame de Paris. Deitada, escuto pela quarta ou sexta vez seus sinos tocarem...ao mesmo tempo, escuto o barulho dos dados sacudindo no copo de couro de Kathleen, cujo jogo Knyffel conquistou Iago.
Eles revizam as aulas de alemão enquanto jogam a segunda rodada, eu escrevo no frescor que finalmente chegou com a sombra das árvores. Pudera, são seis e meia da tarde. Os barcos estão à todo vapor, um por minuto atravessam o Sena sob nossos olhos, Iago acena para aqueles que pedem um aceno, afinal, não vai deixá-los no vácuo. O seu horóscopo confirmara isso minutos antes...que ele não deixa ninguém na mão.

Os barcos grandes passam cheios, os menores, um pouco mais vazios. Os cruzeiros que incluem o jantar começam a aparecer, com uns poucos casais que balançam suas taças de champagne e tiram selfies antes do jantar romântico, pra nós, o prazer é na beira, olhando o Sena como os pescadores olham a linha de pesca, tendo tudo estando junto, sem precisar pagar nada por isso. Aliás, o dois que gostam de ganhar ainda balançam os dados, já lamentando os resultados da segunda rodada, que não está tão feliz quanto a primeira. Uma luz atravessou a nuvem, a espuma do encontro do motor do barco com a água brilha prateada. Começaremos em breve a arrumar o que restou desse encontro, mais um que lembraremos, tendo o Sena como testemunha. E o sino toca mais uma vez, hora da missa na Notredame.


mercredi 18 juillet 2018

Segue, casinha

Era uma vez uma casinha. De madeira. Criança, acompanhei o seu acontecimento. Cada passo de sua aparição : nos troncos das árvores cortadas, brinquei com minhas amigas; no seu esqueleto que foi surgindo pouco a pouco, fui imaginando a presença constante da minha avó que ela traria.
E assim foi, por longos anos...café da manhã na casinha da vó, café com leite na xícara de cerâmica marrom, cuja borda lisa e grossa era gostosa de sentir nos lábios. Cheiro de casinha era cheiro de madeira, e queria muito tê-la pra mim. Olhando o nascer do sol da varanda, menina, já queria morar ali. Queria casar e morar ali, na casinha. Pedi à minha avó que aceitou aquele pedido engraçado de menina.
Naturalmente, foi o que aconteceu. A casinha ficou sem uso um certo tempo, precisava de novos habitantes. E foi ali que constituímos a família que existe hoje.
Foram naqueles quartos que geramos nossos filhos, onde os amamentei. Onde choraram algumas noites, onde li histórias à eles ao pé da cama. Onde muitas festas de aniversário encheram a casa de alegria e de cheiro de fogueira, gosto de festas que não queriam acabar. Festas que existem ainda dentro de nós. Cheiro de goiaba passada, mexerica madura e da doçura do cambuci. Barulho de chuva forte perto, bem perto de nós, que embalava um sono tranquilo. Barulho de passarinho que nos acordava.



Por inúmeras razões, suas paredes foram abaixo, seu telhado que nos aquecia e protegia também. Mas sua terra estará para sempre impregnada das nossas raízes, que recebi de meus avós, que transmiti aos meus filhos. A terra onde a gente cresceu nos abençoou, e foi por nós abençoada. Segue seu rumo, casinha, faz do teu novo corpo um lindo trajeto de amor e esperança. 


mardi 17 juillet 2018

A Francesca que mora em nós

Não é a primeira vez que as "Pontes de Madison" invadem minha vida. Enquanto procurava por algo para me distrair na arrumação da volta da viagem, não pude resistir a esse clássico, que a cada vez, me toca de um jeito novo.
Queria falar hoje dessa Francesca que nos habita. Essa mulher, que por inúmeros motivos, pode nos representar profundamente.
Queria falar hoje dessa Francesca que mora em mim. Não daquela que lamenta a partida desse amor, que hoje sei, impossível; não dessa que se arrepende em alguns momentos do que deixou ir.
A Francesca que mora em mim aceita essa morte em vida que vem com a maternidade, mas não se arrepende do trajeto percorrido. Assim como ela, a Francesca que mora em mim, vive intensamente os momentos de solidão, como presentes à si mesma, como momentos para estar próxima de si mesma e de suas necessidades.
A Francesca que mora em mim aceita ser desejada, mas não tolera que isso seja visto como prioridade. Ela representa muito mais a força dessa aceitação do que uma beleza vaidosa que busca o outro.
A Francesca que mora em mim ainda se sente mais culpada do que deveria, do que poderia ou não ter feito; mas ela começa a descobrir a sombra da culpa que a habita, que imediatamente ela perde um tanto do seu poder.
A Francesca que mora em mim ainda não encontrou plenamente a direção dos seus sonhos, mas já teve um bom punhado deles realizados pelo caminho.
A Francesca que mora em mim é força bruta, esculpida pela vida, marcada pelas rugas e músculos, gorduras e peles. E ela ama o que é.
Que nossas Francescas encontrem o caminho de se realizarem plenamente como mulheres, que tenham a força para mudarem seus trajetos e continuarem trilhando seus caminhos, sem culpa e arrependimentos. Que nossas Francescas possam amar esse amor, que o filme convida, que abraça o mundo e não exclui, que se dispersa entre as cinzas ao encontro das origens.


lundi 16 juillet 2018

Busca da autenticidade

Malas prontas pra voltar pra casa, mas não sem antes conhecer mais alguns lugares pelo caminho... Mais uma vez a intuição garantiu nossas maiores surpresas. Há dois dias, a cidade de Pujols, de casas medievais baixas da cor da areia da costa atlântica, nos encantou com seu museu dos brinquedos inventados e sua luz refinada que valorizava o contorno de cada casa, como se elas já tivessem nascido ali, sem a intervenção do homem.
Hoje, uma visão ao longe nos chamou a atenção. Já tínhamos mudado de região, na Dourdogne, as cores da terra são mais escuras, e as construções acabam sendo também por sua vez. A terra cujas pedras saíram, cujo barro foi usado para os tijolos e as telhas, ainda estão todos lá, em Belvès. Na halle central, imponente espaço com suas vigas em madeira centenária guardam ainda a sinistra corrente que servia para castigar o ladrõezinhos que ficavam presos dois ou três dias com o crime afichado no pescoço. Curiosamente, esses lugares pouco conhecidos, mesmo que preservados e voltados para o turismo histórico, guardam uma atmosfera real perceptível. Algo que eu já percebera há muito tempo, mas só agora entendo.
Indo almoçar na famosa Sarlat-la-Caneda, uma impressão inversa. A mesma vivida nas praias lotadas de Morro de São Paulo, em Carcassone, e mesmo em alguns lugares de Paris.
Apesar da beleza, falta uma autenticidade. Como se o turismo de massa acabasse por sufocar a respiração da vida local. Restaurantes ocupando as belas ruas de pedra, os mesmos menus, as mesmas vitrines. Agora que entendo a razão dessa impressão, gostaria de encontrar um meio de inverter tudo isso...qual seria o caminho ? Um turismo onde sejamos expectadores da história, e não fatores de sua descaracterização; valorizá-la preservando-a. Hoje e sempre.

dimanche 15 juillet 2018

Todo lugar é bom de se estar

Nunca festejamos o 14 de julho de uma forma tão original - para nós, é claro. Vi que ia ter uma grande festa no vilarejo onde estamos e resolvemos participar. Jantar típico, confit de coxa de pato com batatas fritas, queijo e sobremesa. Compramos uma garrafa de rosé de Bergerac, aqui pertinho, e sentamos perto do palco, onde rolaria a "Nostalgia Anos 80". Mesas longas, as familias trouxeram seus próprios pratos, copos e talheres. Algumas até guardanapo de pano e toalha de mesa. Tinha de tudo : familias inteiras, reunidas provavelmente para a ocasião, senhores e senhoras avulsos ou em casais, muitas e muitas crianças. Certamente, elas foram as que começaram se divertindo mais, a pista de dança inteira para correrem e dançarem, enquanto a banda composta de comerciantes locais aquecia a voz. 
Um casal simpático sentou-se perto de nós, habitantes locais, com o forte sotaque da Ocitania, a pele bronzeada e o sorriso no rosto. Bebemos um pouco do tinto deles com o queijo, enquanto experimentaram o nosso rosé na sobremesa. Quando a pista começou a esquentar, lá foram eles dançar também, coladinhos.
Na pista havia lugar para todos. O conjunto eclético conseguia tocar todo tipo de música sem precisar mudar muito o ritmo. Foram das canções francesas que todos conheciam, até ousarem uma Shakira no fim da festa. E o que começou timidamente, continuou até depois dos fogos... uns mais animados que acabavam por convencer o resto da familia a soltar o esqueleto. Cada um do seu jeito, subia o pequeno degrau da pista de madeira e se soltava, como se ali tudo fosse permitido. As vozes do grupo já cansadas não pararam enquanto a animação continuou. Até arrisquei uns passos, mas olhar de fora estava muito mais interessante e divertido, então me sentei perto e pude assistir a expressão reveladora e particular de cada um.
Depois dos fogos encherem o céu pra platéia admirar sentada na grama, muitos ainda voltaram a dançar, talvez o grupo nem tenha parado de tocar... Extasiados diante da doçura do tempo, que foi generoso para o vilarejo poder festejar, todas as idades viveram algumas horas celebrando mais um ano da queda da Bastilha, e tivemos a sorte de poder estar lá.

samedi 14 juillet 2018

Mistérios das grutas

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É um testemunho do milagroso cada vez que posso conhecer uma gruta.  Iago queria conhecer a gruta de Fontirou e achamos uma boa idéia pra fugir do calor de hoje. A entrada no meio de um bosque já prevê o frescor que virá... Um quadro pitoresco revela as condições impressionantes da descoberta de um fazendeiro : sua vaca caira na entrada da gruta. Ele, em 1905, curioso, começou a escavar parte do que existe hoje.
Acho realmente especial poder ser testemunha dessas obras de arte esculpidas por milhões de anos pela água e todas as substâncias que ela carrega. As estalagnites e estalactites, suas formações exuberantes, seus encontros misteriosos, que finalmente, não conseguimos explicar muito bem. Lá estão eles, de texturas inéditas para o meu toque : lisa e fria onde chega a água, áspera e seca onde o calcário se estabelece. A idade das esculturas são medidas : 1 centimetro a cada 150 anos. As cores revelam se passaram pelos períodos glaciares ou mais atuais. E os mistérios continuam, pois estalactites em forma de corais surgem em meio as outras, inexplicavelmente. O dióxido de carbono abre buracos durante milhares de anos para encontrar nossa atmosfera, e torna assim o ar das galerias respiráveis;  o pequeno riacho que deve ter ajudado a criar os 5 km de galeria continuam em filetes a executar seu trabalho incessante: de criar outras novas galerias ainda inacessíveis. Intacto, não se altera nem em período de seca, nem de inundações. Desde pequena escuto sobre essas formações impressionantes, mas a cada gruta a surpresa acontece, como se eu pudesse estar um pouco mais perto desses milagres substanciais... quantas grutas existem sob nossos pés que desconhecemos ?!

vendredi 13 juillet 2018

O sopro das bastides medievais

Meio sem querer viemos parar num território de cidades bastides. Descobri que foram construidas no século XIII por ingleses e franceses para estimular a povoação de áreas pouco habitadas. Até hoje guardam o charme inigualável de construções perpendiculares à uma praça central rodeada de arcos, que foram preservadas com as cores claras da terra, formando imensas obras preservadas. 
Onde estamos, a cidade de Castillonnès, a cidade viznha de Issigeac, repleta de restaurantes interessantes e a maior delas, que conhecemos hoje, Montflanquin; são exemplos de cidades bastides preservadas.
O dia de marché é quando elas mostram o grande brilho, ficam cheias, como devia ser na idade média, os vendedores falando alto e atraindo a clientela. Mas quando tive a oportunidade de circular sozinha entre as ruelas estreitas e silenciosas, é que pude realmente sentir a vida que habita aquelas pedras, a vida que talvez tenham armazenado há séculos. Sopros frios e úmidos, com um cheiro peculiar de mofo e fluídos, comidas e tabaco, cheiros reveladores de história.
Assim, seja no simples relógio de Castillonnès onde passaremos a festa nacional de 14 de julho, no charme monocromático impecável de Issigeac, aos acolhedores corredores de Montflanquin; respiramos história, meio sem saber se, estar ali seja o suficiente para fazer parte dela.
Imagens se repetem, como se parassem no tempo, numa cidade e em outra, guardando o que tem de mais precioso : essa gente que vive para preservá-las. Artistas em calças largas, boinas grandes, taças de rosé em mãos, festejam os trinta anos do restaurante em que estamos. Imagino que durante muitos verões longos e quentes eles ali estiveram. Verões inesquecíveis com o pôr do sol de aquarela que ganhamos hoje ao anoitecer...
Issigeac
Issigeac
Montflanquin

jeudi 12 juillet 2018

No coração dos castelos

A França está tomada por castelos. Alguns em ruínas, medievais, fortes, renascentistas, castelos desconhecidos que mutirões de vilarejos se juntam pra salvar. É um patrimônio de extrema importância na cultura francesa, como se eles já nascessem sabendo que o passado tem muito a nos ensinar...
Estamos na região do Perigord, rodeados de rios e castelos que tiveram diferentes funções. Descobrindo um pouco mais sobre eles, descobrimos que ainda hoje tem sua função: transmitir sua história para que compreendamos seu percurso e o que ele tem a nos ensinar.

As ruínas do antigo forte, o Castelo de Gavaudun, parecem nascer de um enorme rochedo. Ele fôra estrategicamente construido no local com uma arquitetura militar para dificultar seu acesso. Primeiro ocupado por ladrões chamados Henriciens, contruiu a fama de guardar um tesouro. Destruido e reconstruido, só podemos imaginar o que aquelas pedras já testemunharam, o que aquela altura quase inalcançável pode avistar. Mas o mais impressionante é o acesso. Escadas estreitas e rentes ao corpo impediam qualquer chegada surpresa, mesmo porque a maneira como entravam na época é inacessivel ! Na verdade, o poço que ligava a entrada ao castelo era acessivel por uma escada móvel, que "selecionava" as visitas. 

A tarde estava longa, prolongamos então o passeio para um castelo de estilo oposto : o Castelo de Biron. Um dos maiores da região, um rei dos "puxadinhos"; tem dentro de todo o conjunto uma parte medieval e outra renascentista. Capela de dois andares, 10 chaminés, algumas revestidas de mármore, uma cozinha medieval que  nunca chegou a ser usada; mil anos se passaram e ele continua ali, intacto. As telhas correspondem a cada época, as curvas das vigas, me tocam como as curvas de um corpo humano; e por dentro, seu esplendor na força e vigor da madeira...
Chegando na ala renascentista, tudo parece mais familiar, mas o trabalho do artesão ainda está ali, nos detalhes. No desenho delicado do ferro dos corrimãos, no piso desenhado em madeira que ainda exala seu perfume.
Não podíamos terminar o dia de outro modo : jantando ao ar livre nos jardins do castelo. Só comidas típicas da região feitas e vendidas pelos comerciantes locais : magret de canard em hamburguer, morangos da Dourdogne com chantilly, vinho local.
Mais um dia de descobertas e de admiração por esse povo que sabe valorizar sua história.

mercredi 11 juillet 2018

Do alto das árvores

Mais um arvorismo traçado pelo caminho do Iago. Já faz três anos que a cada viagem esse é seu pedido especial. Vestido de toda a parafernália que se deve, conhecendo perfeitamente a ordem de abrir e fechar cada gancho, hoje ele partiu sozinho para as árvores, e ficamos observando todo seu trajeto debaixo dele.
Não demorou muito, logo começou a conversar com as crianças à sua frente, irmãos belgas de 12 e 10 anos. Clement ia à frente da irmã. Apesar do corpo longilíneo e leve, tinha lá seus deslizes onde o equilíbrio era importante, e logo anunciava à irmã o que a esperava. Ela, toda espevitada, sacudia as cordas do irmão quando não era ele que fazia. Cada plataforma entre os obstáculos era o ponto de bate papo entre Iago e Clara, risadas e opiniões rolando soltos.
Nas tirolezas, os gritos ecoavam, "pode vir", e os três já caminhavam juntos, um esperando o outro, acompanhando e dando o apoio, curtindo as longas descidas e balançando nos trajetos mais fáceis.
Três horas se passaram, e logo se reencontraram na piscina natural. Clement e Iago, sem os óculos, quase não se reconheceram. Clara com um óculos de mergulho só via debaixo d'água. Demos uma mãozinha no reencontro e a brincadeira continuou. Pulos acrobáticos, temáticos, e mais duas horas intensas, juntos como se um dia de amizade equivalessem há anos...a aproximação natural de criança, lição de vida vivida de instante.


mardi 10 juillet 2018

Pelo Marché de Castillonnès

Que sorte a minha, primeiro dia na cidade Bastide de Castillonnès, e é dia de Marché ! 
Verdade que não gosto de muvuca, sempre fugi de compras na 25 de março e a Festa de 14 de julho na Torre Eiffel, mas o apertadinho de uma feira, ainda mais num vilarejo, sempre vale a pena... não tem apressados empurrando de cara feia, só gente dourada de sol e sorriso aberto que já entendeu que o marché é um momento de prazer.
Lá pelas 10h me aventuro, ainda está calmo. Delícia que é quando a freguesia conhece o comerciante, que já chega dando abraço, cheio de intimidade. Delícia perfumada uma feira de verão cheirando à melão melado e morango colhido há algumas horas. 
Surpresas também me interessam. Achei um prato artesanal de cerâmica que transforma um dente de alho em purê, utensilio tipico do sul da França que tem a cozinha carregada no alho e azeite. Já levei três pra presentear, para os amantes de alho e suas texturas.
Depois encontro um toque do norte, adaptado para o sudoeste. Uma moça que fabrica os queijos de suas vacas normandas, que comem as ervas dessa região ensolarada, permite a criação de um Tomme especial, e de um doce de leite ao qual não pude resistir. Revelando a identidade brasileira na fraqueza do açúcar, descubro da queijeira que seu irmão mora em Manaus com uma brasileira, e que tinha uma loja de...macarons ! Um mundo tão grande que às vezes parece tão pequeno...
Fiquei tão carregada após a empolgação, que perdi minha moedeira. Engraçado que eu estava tão tranquila, como se tivesse a certeza que iria reencontrá-la. Dito e feito, haviam encontrado pelo chão e deixado na padaria onde eu comprara pão...talvez tenha sido o jovem produtor que vendia sua recolta de tomates coração de boi... mais um acontecimento que só poderia ser natural num canto peculiar como esse...

lundi 9 juillet 2018

Pé na estrada

Dá trabalho, mas encaro qualquer pé na estrada. Depois de uma semana sem tempo nem pra escrever, os preparativos fizeram o domingo ficar curto, a memória espalhada, procurando em cada canto da cabeça o que tinha pensado em fazer instantes antes. Molhar as plantas, não esquecer o filtro de café, par de meia no caminho - pronto - o que eu ia fazer mesmo ?
Acordo mais cedo que todo mundo :  sacolas, malas, detalhes...queria ser mais desligada, mas meu funcionamento me persegue. Não estressar por esquecer as coisas é algo desconhecido pra mim.
Bastou pegar a estrada que o relaxamento começou. Não o físico, mas o mental. A atenção que a estrada exige, mais a companhia da música, sempre recheada de lembranças, me realizam enquanto dirijo. Canto, o corpo não cansa, o sono não ousa se aproximar. Francis Cabrel, Marisa Monte, Maria Rita, Virginia Rodrigues...cada uma contando um pedaço de vida que passou, a voz de hoje vibrando em mim o sentido de ontem, se transformando em sentido hoje.
Parada para o piquenique. Viagem sem piquenique na estrada não tem graça. Sombra, mesa cheia de frios cortados fininho, saladas lavadas, frutas geladas. Pausa pra reconfortar o corpo, esticar as pernas e lembrar com o céu azul de quantos outros já aconteceram. Esse é o primeiro de uma viagem que começou, e não será o único...

dimanche 8 juillet 2018

Povos de um só lugar

Não lembro desde quando gosto de Caetano. Nem qual minha música predileta. Mas tenho minha adolescência marcada pelas suas músicas e seus shows. 
Na década de 90 não perdia um. Ele, ou eu, estávamos no auge. Era o que eu pensava...
O último grande show que assisti foi há 25 anos ! Meus 20, festejados nos 50 anos de carreira dele e de Gil, com o Tropicália II. Eu e minha mãe, no Anhembi, no dia do meu aniversário. 
Me afastei do seu percurso, tracei o meu, sem deixar de admirar a clareza e frescor de suas letras. Cajuína, Odara, Canto do Povo de um lugar...
Hoje, dez anos depois, reencontro o povo do meu lugar, que me habita. Em sua voz madura, precisa, a prova de que a idade o esculpiu. Sua voz se transformou em escultura, tal qual as de Rodin e Claudel. Seu frescor, se manifestam agora através dos filhos, pureza límpida que vai de encontro direto ao lugar. Ao profundo. Do agudo limpo de Zeca, ao veludo sensual de Moreno. À descontração descalça de Tom. Velosos, vocês são belos. Não só exteriormente, mas na sinceridade da troca dos olhares cúmplices, no compartilhar bibliográfico das vidas entrelaçadas.
Paro; ainda há tanto à digerir dessa noite em Paris, onde fomos todos o povo de um só lugar.
Un grand merci, du plus profond de moi.


dimanche 1 juillet 2018

Ritual especial

As crianças da classe do Iago me conhecem bem. Sou um dos poucos parentes que acompanham os passeios... a maioria trabalha, ou tem crianças pequenas pra cuidar.
No dia que ele tocou para os amigos, fui surpreendida pelo pedido da algumas delas. Vieram com o livro de Fábulas de la Fontaine que ganharam da escola pedindo que eu assinasse. De cara não sabia o que fazer e me lembrei dos nossos finais de ano na escola. Escrevi então "Boa continuação", já que passam todos para o Ensino Fundamental, e assinei embaixo.
Cada fim de ano pedia uma camiseta branca vazia, que voltaria toda colorida e assinada da escola. As vezes era uma antiga furada do uniforme, que ia ser aposentada mesmo, outras vezes a levávamos à parte. Um dia só era pouco para conseguirmos recolher a assinatura dos grandes amigos, daqueles que gostaríamos que fossem, do menino que a gente gostava secretamente. E tinha que ter um grande espaço para os professores, para aquele que partiria para outra escola.
Quando eu voltava pra casa, colocava a camiseta sobre a cama, lia cada pequena mensagem, prestava atenção na caligrafia, na cor escolhida, lembrava do momento que alguns tinham escrito, percebia que tinha faltado a assinatura de outros. Claro que guardava sem lavar, pois a canetinha não resistiria a água com sabão...Mas não tenho comigo mais nenhuma; como se a lembrança fosse mais pra ser vivida do que conservada. 
O Hector ainda tem a sua, assinada pela turma do Agora no ano em que viemos pra França, quando tinha 11 anos. Letrinhas que indicam a idade, palavras que demonstram a sinceridade e pureza dos sentimentos. Espero que o Iago leve também seu livro para os amigos assinarem,  e que guarde com emoção os pedacinhos daqueles com os quais conviveu esse ano.