samedi 26 février 2011

Arvores Nuas


Os ramos das arvores no inverno ficam visiveis.
Sem as folhas, desnudam-se para qualquer um ver, para quem quiser ver.
Expoem-se inteiras, as arvores, da cabeça aos pés.
Suas curvas, cicatrizes, harmonias, simetrias. Suas marcas, sua idade.
E a renovaçao da vida surge em seus brotos prestes à desabrocharem na primeira brisa quente de primavera.
Daquela que parece seca, ressurge a vida com toda força.
Sao ainda mais belas vistas ao entardecer, sem se moverem, parecem dançar passando rapidamente diante de meus olhos, que tentam acompanha-las de dentro do carro.
Diferentes umas das outras, cada qual seguiu seu crescimento, mas todas seguiram o mesmo caminho.
Primeiro criaram raizes, da terra tiraram a força que criou seus corpos.
A cada ano dao novos brotos que se expandem mais e mais, buscando sempre o alto.
Criando sua propria historia, sua trajetoria.
Que eu possa sempre admira-las nuas assim, belas e fortes, as arvores.

vendredi 18 février 2011

Sob os raios da lua cheia

Aniversario entre amigos. Ponto de encontro : restaurante italiano no segundo bairro de Paris, mais precisamente numa travessa da rua Montorgueil. Para la chegar, descemos na estaçao Chatelet Les Halles, antigo mercado central da cidade, hoje centro comercial e entrocamento de nada mais nada menos do que oito linhas de trens e metro. Alem das lojas, piscina, midiateca e a possibilidade de se deparar inesperadamente com a igreja de Saint Eustache. Coisas de Paris. Por aqui isso pode acontecer tambem com a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, a igreja de Sacre-coeur, a Notredame de Paris, surpresas que o topo das escadas rolantes nos reservam...
E la estava ela, mais um dos lindos monumentos da cidade, amarelada  pelas lampadas que valorizavam seus contornos, com a compania um pouco mais à direita, da lua cheia na mesma tonalidade... Com as pontas das orelhas geladas cruzamos as ruas do bairro, e todos os outros que tambem compartilhavam do frescor do ar e do brilho sedutor da redondinha la no alto do céu.
Entre taças, risadas descontraidas, belas massas e molhos, esquentamos nossos corpos e espiritos, terminando com um cremoso vinho quente na virada da meia noite. No caminho, uma pedinte se descontraia com seu celular, rindo sentada sobre o chao frio, cena surreal dos contrastes da vida humana. Outro grupo carregava caixas de mudança, cruzando os musicos de metro, que voltavam para casa (?), apos mais um dia de trabalho... E a lua ali, testemunhando os bem aventurados e os nem tanto, encantando a todos com seu brilho opaco de rainha.

dimanche 13 février 2011

Ca com meus botoes.




Eles chegaram um dia la em casa em grande numero, na bagagem da Vo Marly. Muitos botoezinhos, num potinho de creme de Avon.

Por que tao longa viagem ? Ninguém sabe ao certo… o que motivou a Vo Marly a faze-los atravessar o oceano.Nem ela mesma .

Muito bonitinhos, todos com pelo menos dois furinhos nas mais variadas cores e formas. Passaram um longo tempo tranquilos, hibernando no pote de creme, até que um dia foram descobertos, como o genio da lampada fôra outrora por Aladim.



O Aladim espoleta la de casa se chama Iago, que, maravilhado com as miudezas tao numerosas, tratou de liberta-las pela casa para todo o sempre.

Levou alguns para passear em suas xicaras coloridas, onde os botoezinhos saculejantes faziam as vezes de suco ou cha, enquanto outros passeavam como passageiros de seus carrinhos e até mesmo se transformavam em bombeiros destemidos.

Um belo dia um misterio de fez e todos desapareceram de uma so vez ! Onde o meu Aladim os teria colocado ? Sera que criaram vida e sairam em debandada ?


Vivi a cada dia os anseios dos botoes que redescubria espalhados pela casa, me divertia, entrando neles e me vendo diante desse mundo imenso, sendo um botaozinho desses bem pequeninos, como um dia foram meus meninos…

Os que tinham sede, encontrei alegremente afogados no fundo da minha garrafa de agua, que procuro nas sedes da madrugada. Dois deles, bem transparentes, esperavam com agua na boca embaixo da cafeteira o aroma do café fresquinho. Ja um branquinho de borda vermelha, perdido de algum vestidinho vermelho atrevido de menina brejeira, esperava impaciente o banho dentro da saboneteira. Um azul teimoso se alojou, grudado na massinha, no fundo de uma tacinha laranja e la ficou. Impossivel retira-lo, esse ja tinha, por conta propria, o destino traçado. Mas os mais ousados foram dois bem escuros que camuflados pelo movel de TV, esperavam um programa proibido para assitirem escondido.


Por um bom tempo ainda surgiram alguns desbravadores, nos cantinhos dos corredores e nos lugares mais inusitados. Reuni todos para que voltassem para casa, mas até hoje sinto falta da alegria que sentia quando os encontrava. Quem sabe ainda nao encontro algum solitario; quem sabe, quem sabe... aqui em casa, nunca se sabe...

samedi 12 février 2011

Vagaros-a-mente

A ida ao supermercado se transformou num passeio. O mundo muda de tempo quando os passos sao lentos, o corpo muda de peso.O sol batendo nas costas, trazia um calorzinho bom e criava uma sombra brincalhona na nossa frente. Cada pedaço de concreto sugeria uma corda bamba ao equilibrista Iago, que pé ante pé, terminava-o com um salto de ginastica olimpica.

Compra feita, carrinho cheio, tomamos o caminho de casa. Iago carrega o pacote de salsichas, nao pode deixa-lo de lado... até ficar diante da faixa de pedestres. Me devolve as salsichas para saltar sobre cada faixa branca enquanto atravessa a rua. Em seguida, as pede de volta. Uma senhora passa, me olha nos olhos sorrindo e diz que "c'est mignon", Iago em seu capuz vermelho...

E o trajeto termina com o "Abre-te Sésamo" da porta da garagem, e o "Fecha-te Sésamo" assim que a luzinha laranja começa a piscar, num final de tarde que poderia ter sido so mais um fim de tarde.

dimanche 6 février 2011

Seu olhar pelo meu olhar.

A noite é perfumada. Cheira a flor, a perfume doce, a fumaça misteriosa.
Pessoas circulam, param, conversam, voltam, atravessam a rua sem olhar. Ela é um tapete vermelho aveludado aos reis e rainhas em desfile...e os carros seus suditos, param diante de suas majestades.

Olham para cima, agradecendo sonhos realizados.
Olham para o lado, em busca dos sonhos imaginados.

A noite é uma criança, um convite ao infinito céu estrelado, à brisa fresca do instante presente.

E seguem noite adentro, quase saltitantes, em seus casacos pretos e colants brilhantes.

samedi 5 février 2011

O gorro.

Alguém perdeu um gorro diante da porta do trem. Bem diante dela. Todos o viram. Impossivel nao vê-lo. Mas fizeram como se ele nao estivesse ali. Como fazem as vezes uns com os outros.
Ele estava espalhado no chao, bonitinho. A cabeça que ele protegia do frio, nao voltara recupera-lo, esse instante ja passou, se perdeu. Sera que ele voltara a aquecer a cabeça de alguém ?

Um musico e duas jovens identicas entram no trem. Pequenas bolsas debaixo dos olhos cansados das meninas sorriam enquanto cantavam juntas, e por curtos instantes as romenas cantando em italiano entravam na mesma frequencia, e suas vozes ocupavam todo o vagao, ressoando na minha cabeça, anestesiando o falatorio que havia nela. Surgiu entao o som das moedas se encontrando em nome desse agradecimento, saindo de quem partilhara essa frequencia.

E ao partirem na estaçao seguinte, algum misterioso passageiro resolveu dar destino ao gorro que acolheu certamente à toda a vibraçao; deve ter ido feliz aquecer a cabeça de alguém, exercer sua funçao.
E eu, que segui adiante, senti um alivio por nao vê-lo mais abandonado no chao.

vendredi 4 février 2011

Pensées em pensamento

Dias sem fim, -3, -4, nem uma nevezinha pra dar leveza à tanta frieza.
Anteontem o tempo melhorou. Subiu alguns graus. Pude andar sem luvas na rua, até os passarinhos festejaram.

Eu, cansada de olhar minha varanda seca, sem nada, resolvi plantar. Comprei uma bandeja de pensées, nosso amor perfeito, e lembrei do mês de maio, ha um ano atras, quando a Vo Seiko chegou aqui em casa e viu minhas pensées (que significa pensamento em frances). Toda manha ela falava de como estavam bonitas, minhas pensées... E elas, iam ficando cada dia mais envaidecidas com esse olhar todo admirado da vovo. Aquelas ja se foram, trouxeram pulgoes e nao aguentaram o verao, deram o lugar à geranios e outras formosuras. Agora é a vez de outras caçulas ganharem força com a neve o o frio que estao por vir, para no mês de maio novamente estarem resplandecentes até fazerem os outros sorrir.

E o ciclo entao começar novamente, com a primavera tomando a frente.

Vo Seiko, plantei pensées pensando em voce... Mas dessa vez voce nao esta aqui pra ver...

Gratidao


(Depois de um mes de Brasil, de volta ao nosso ape, ele pareceu mais colorido e claro. O tempo foi encomendado, "doux"... por volta de 8 graus.
No domingo, dia 16, escrevi para o pessoal de casa o texto abaixo, depois de refletir sobre a emoçao vivida no aeroporto antes de embarcar.)

Acabei de limpar os banheiros aqui de casa, so agora me deu pique, depois de passear duas horas no parque de Sceaux. Fez um dia lindo, ceu azul e clima ameno, 12 graus. Mesmo bem cheio de gente o silencio no caminho me encheu de alegria, descobri que estava com saudades dele. E o sol fraquinho, com o ventinho gelado estava muito relaxante, sensaçao tao gostosa quanto o clima dai, quente que chega a abraçar a gente.
Iago brincou bastante, correu e catou galhos secos como gosta de fazer, voltamos com os pés cheios de barro e tive que lavar os sapatos no bidê, so o do Roti estava premiado de coco, dizem que da sorte, né ? Compramos o pao de tradiçao da unica padaria aberta às 17h da tarde e um pao aos cereais, acho que vou fazer uma sopa do Picard que achei no freezer e deixar o que sobrou do salmao do almoço pra galera, alias, Vo Seiko, Iago comeu um monte de nori enroladinho com arroz e salmao, convenci o figura pois ele tinha me ajudado a fazer, hehe .
Ariel acabou de chegar, tinha ido jogar bola com os amigos(o que nao faz ha muito tempo) e esta comendo clube social, os que restaram da viagem. Chegamos esbagaçados e resolvemos voltar de taxi, lotamos o carro com as malas...
Enfim, todo esse bla bla bla é pra contar que estamos bem, felizes com tudo que vivemos com voces e gratos, infinitamente (infinnement) por tudo que fizeram por nos. Acho que era essa a razao do meu choro incontido no aeroporto, meu coraçao estava transbordando de gratidao.
Amo cada um de voces, e nao sintam aquela saudade dolorida nao por que o tempo so depende da nossa relaçao com ele, e o amor é maior que ele, nao o leva em conta.