samedi 31 décembre 2011

Neve em mim





Diante da neve

Pura

Nenhuma amargura



Diante da neve

Gelada

Natureza repousa intocada



Diante da neve

Brilhante

Deslumbrante diamante



Me calo

Me retiro

Nem respiro



Hiberno em sua profundeza de fragil beleza



Poderosa e hipnotizante

Sob a força do sol radiante



Volto entao, com um outro valor

Pequena,

Serena,

Preenchida de calor.

Justeza.





Arbustos. Justos.

Robustos

Nuances de cores que se casam

Se entrelaçam

Como num romance



Onde os tamanhos se encaixam

Os troncos se enlaçam

As cores se fundem,

Se unem.



Volto ao chao

Me desapego dessa visao

Milagre de harmonia à minha revelia

Segundo de Alegria

Transiçao




                                             pt.dreamstime.com

Nem tudo é sono no outono



Nesta época, as folhas,

longilineas



Acolhem

Protegem do vento do Norte



Verdes, violetas,

Fortes, espoletas.



Depois de certo tempo todas tombarao

E darao lugar ao rigor do inverno

Para que a primavera se anuncie



Em suas pequeninas flores

convidando à novos amores.

Brisa que brisa





Essa brisa que me brisa

E ao mesmo tempo me alisa

Me contorna, acaricia, suaviza.



Determina a linha que separa minha vida da dela

Ela que é brisa efêmera

E fortemente bela



Fria,

Delinea e refresca

Me contém num abraço

Num volume nunca antes experimentado.

Olhares cumplices





Ela

Sentou-se com dificuldade

Começou a tecer

Interrompendo seu crochê so para lhe ver



Ele

Passava habilmente seus pezinhos gordinhos por entre as grades

Se imaginando talvez sob um penhasco sombrio

Ou agarrado à um rochedo escorregadio



Durante esse longo instante

Ela o admirava com os labios entreabertos

Quase retendo a respiraçao

Diante de sua manobra constante.



E terminando seu espetaculo particular,

Ele procurou nada mais

Que a cumplicidade de seu olhar.

jeudi 29 décembre 2011

Tratado sobre a culpa.




A culpa é culpada pela minha culpa. E uma entidade que carrego e que, recentemente, graças a um amigo, descobri que é minha companheira de anos. Descobri também que nao sou ela. Quando sinto culpa, nao sou a culpada por isso, mas a culpa. Nem maiusculas ela merece, essa dona impertinente que vive aparecendo no menor instante ausente.

Quando a vejo chegar de repente escapo pela tangente, quando me deixo queimar por ela, me esvazio lentamente.

A partir de agora que a conheço pelo lado de fora, a unica culpa que terei que carregar é a de desprezar o instante que posso a encarar.

mardi 8 novembre 2011

Quando tudo que é desigual esta tao longe do normal.





Ela ficou mais um dia so pra ficar comigo. E a primeira vez que alguém fora meu pai e minha mae fica por aqui por causa disso. Fiquei tocada pela sua atitude, e entao decidi tirar pra ela o dia todo… e o dia seria particularmente diferente, além do que poderiamos imaginar.

Duas almas poetas, querendo aparar suas arestas… tanto lugar pra se inspirar, pra nos marcar juntas, mas nao, foi no imprevisto que nos caracteriza que o dia se fez.

Um par de tenis nos levou pra perto da biblioteca François Mitterrand, heroi pra ela, imagem de sua historia de infancia… e enquanto falava disso, quase caimos por estar debruçadas na porta do metro, achando que ela ia abrir do outro lado…Subimos sem pressa cada lance de escada rolante, conversando, partilhando informaçoes e impressoes, tanta coisa que a gente tinha pra dividir e nunca tinha tido oportunidade.

Ela falava do tempo do sertao de Minas e do Alentejo, eu do tempo da rotina e do Maranhao, e o nosso tempo também ficou outro, mais vivido, mais aproveitado.

Tentei imaginar onde poderia estar a loja, pensei em perguntar, mas nem precisei pois ela estava logo ali do outro lado da rua a nos esperar. Compramos rapidinho e saimos dali… gastar nao é com a gente, essa historia de grana é algo que altera o tempo presente.

Lembranças ela buscava pra levar pra filharada, saimos em busca numa caminhada.

Atravessando o rio Sena comendo uvas passas, pareciamos personagens de uma cena surreal. Eu vestida de brecho e ela com uma calça desfiada, que o Iago sugeriu que me desse pra costurar; passamos quase despercebidas pelo pedinte do farol… que nos olhara com o rabo de olho e viu que dali nao tiraria nem um piolho.

Entre outras lojas perambulamos, nos perdendo e nos achando, almoçando juntas nos alimentando muito mais do que de crepes… e ainda faltava uma parada, procurar o desigual la onde é tudo igual.

Traduzindo, no coraçao do boulevard Haussman que cheira a perfume doce, nos vimos espremidas entre as duas lojas de sonho de consumo de tanta gente, evitando até o fim atravessar o vidro, beirando mesmo o limite da gente. Nao teve jeito, depois de girar em circulo sob os olhos da Gisele Bundchen decorando estranhamente o esplendoroso Operah, tivemos que nos render e entrar atras da tal desigual, nos sentindo fora do normal.

Compreendo agora o sentimento dela e partilho, quando disse que nao comprar ali era uma questao de principio. E o mesmo que senti quando visitei Versailles e conheci a realidade da populaçao enquanto o rei Luis XIV contruia suas fontes. De um lado do vidro uma fila de orientais esperavam pra entrar no espaço Chanel, enquanto do lado de fora ambulantes sob a garoa fina tentavam vender bonecos vestidos de Papai Noel.

Que Natal é esse ? Nao ha como nao se sentir mal, tudo esta às avessas e fora do normal. Inclusive as roupas exclusivas da tal desigual, que custam o que festejaria pra essas pessoas da garoa muito mais do que uma ceia de Natal.

vendredi 21 octobre 2011

Passo à passo.

So o vento em movimento

Vindo nao sei de onde

Indo nao sei pra onde


Ao fundo, o fim do trajeto.

E pela saida de um tunel

A paisagem parecia que esperava

Intacta



Nesse tunel eu passo também

Feito de arvores verdejantes

Feito de sombra aconchegante

Que aliviam meu passo ofegante



Sua saida iluminada é resplandecente

Pois ressalta as cores de um tronco imponente



Termino entao a jornada

Lenha transportada

Perna pesada

Alma lavada.

mardi 26 juillet 2011

Quase bailarina



Parecia uma bailarina
de pescoço longo e saboneteira pronunciada.

A cabeça ligeiramente levantada prometia uma dança sentada
com o charme que inspirava seu coque grosseiro que ajeitava seus fios de cabelo.

E nas unhas lilas de suas maos
se divertiam pintinhas azuis, combinando com o tom
de um par de congas novinho em seus pés,
prontos para saltar entre o trem e o vao do cais...

Como num espetaculo de ballet.

jeudi 7 juillet 2011

Lugar errado



Dois orientais na beira do cais.
Beirando a linha cinza que limita o vao da sorte... ou seria da morte ?

De cocoras conversavam, com os pés inteiramente apoiados no chao,
Como eu fazia quando lidava na horta dos meus graos.

Enquanto o mais velho enrolava um pedaço de papel
com os dedos da mao,

o todo vestido de preto com seu par de sapatos encerados
alisava uma chave de fenda com atençao.


O trem se aproxima e num so impulso se levantam
como se estivessem sempre ali estado
mascando um capim à beira de um lago
esperando à fisgada de um dourado.

samedi 4 juin 2011

Chove chuva, chove pra chuchu.


Sei que por aqui nao da chuchu… pra falar a verdade nem sinto falta dele…

Sinto falta da chuva, dessa chuvarada que cai feito banho de balde na cabeça.



Sinto falta dos raios e trovoes, relampagos e seus barulhoes

Que assustavam meus caes choroes.



A chuva chegou, e logo passou.

Mas seu rastro ficou.

A terra mudou e minhas narinas impregnou.
Ela ainda exala o perfume de quando a chuva vem depois de muito tempo, quando ela se sentia ja abandonada… e mesmo que nao seja suficiente para alimenta-la, agradece compartilhando esse universal e unico cheiro de terra molhada.

Me invade vinda no vento, enchendo meu peito de contentamento

Perfume de vida, pulsando escondida, esperando ser acolhida…

Vem agua, vem pra sua lida !

lundi 16 mai 2011

Dia no campo




Nuvens cinzas, pesadas, enchem o céu,

Impedem o sol de se expandir…

Pouco importa ao Astro-rei

Sua luz irradia e as atravessa mesmo assim.



Em alguns momentos os cinzas variavam de tom,

transmitindo uma espessura, um volume, um valor.

Em outros, transparentes ficavam,

ao azul mais profundo do céu cedendo espaço.



Ao verde que chegou intenso, tomando conta de tudo,

Agradeço e me rendo. Respiro, toco, apreendo.



As flores e seus aromas, que na brisa umida se mostram presentes,

Comprovam o Milagre à minha frente.



Assim, com as maos na terra me religo à tudo isso, faço parte, me dirijo.

A algo do qual nada sei, mas que para sempre servirei.

mercredi 11 mai 2011

Dignidade

Foto: Fernando Cohen


Em seu pequeno porte

Dignidade exalava

Acho que se pudesse,

 na cadeira se afundava.



Maos marcadas pelo trabalho deslizavam sistematicamente pelo jornal dobrado, que lia franzindo o cenho.

Um elastico mantinha a manga do braço esquerdo do casaco, fazendo as vezes do botao, despertando em mim uma ponta de compaixao.



Partiu do trem levando consigo meu respeito e admiraçao.

vendredi 6 mai 2011

Amor de irmao na contramao.





Era uma vez...
Iago que amava Pedro
que amava Ariel
que amava à ele mesmo

Hector que amava à todos 
mesmo afirmando que nao
traido pela voz docil
que vinha na contramao. 








Iago tem quase 4 anos
Pedro quase 9 anos
Ariel quase 13 anos
e Hector quase 15 anos de vida.

jeudi 28 avril 2011

Manha musical.

Essa manha fui à Paris comprar um tapete de ioga. Dia de greve no RER B. Ainda assim consegui pegar o trem das 11h. Podia até dar musica...
Abri a porta do vagao e quase tropecei num saco de lixo. Um pacote de chocolate Lindt amassado estava grudado no saco transparente. O saco tinha dono, um rapaz sem domicilio fixo que lia o jornal rindo e comendo um velho pedaço de pao.
O dia cinza de céu encoberto lembra a Paris de sempre, de tempo "mediocre" como dizia Reali Junior, falecido recentemente. Tanto quanto os restos mortais nao imagino do que do saco plastico do rapaz mais à vontade do vagao, que começava a penetrar nas narinas de quem estava perto. Desço na proxima, exatos 11h11.
Espero minha amiga no cais da linha seis : palco de espetaculos. Um cantor afina a voz e o violao olhando para o mapa do metro, dando às costas às pessoas, partindo em seguida para seu ganha pao; enquanto do outro lado dos trilhos uma harpa ressoa magicamente, suavizando o ambiente subterraneo, e os azulejos brancos brilham no tunel como se pudessem se transformar num céu estrelado. E tudo em musica havia terminado.

dimanche 24 avril 2011

Domingo de Pascoa

Me dirijo ao supermercado da esquina para comprar algumas coisas que estao faltando para o almoço de hoje. Afinal é Pascoa, o que pede um almoço especial... Mas por quê mesmo ?
Na rua estao todos apressados, como se fosse um outro dia da semana. Concentrados em cumprir os planos de acordo com a lista em maos, correndo para poderem descansar caminhando pelo parque apos a caprichada refeiçao.
E o dia vai terminando depois de toda essa maratona, como so mais um domingo em familia. Ah, era Domingo de Pascoa, com direito à ovos de chocolate e talvez mesmo um "Caça ao Tesouro" no jardim.

Mas o que eu queria saber mesmo é onde estava a Vida que corre dentro de cada um de nos num dia assim...
Estou mesmo disposta à buscar a renovaçao, à "morrer" e me "sacrificar" e renascer das cinzas ? Sera que nao falo muito e faço pouco ?
Nessa reflexao talvez more o sentido da Pascoa : o de que nao cumpro muitas vezes com a palavra que uso com tanta facilidade...e que nesse reconhecimento, ai entao, alguma esperança renasça.

samedi 23 avril 2011

Instante

Ele cruzou o jardim japonês de uma so vez.


Nos passos curtos de seus sapatos marrons

com sua veste surrada, de gola virada,

atravessou o deck curvilineo e parando de repente

virou-se pra mim interrompendo minha mente.


Nao se repousou

Nao se sentou

Apenas olhou


Olhos distantes, mas inebriantes

acompanhando o nariz anguloso

e seus cabelos de um cinza brilhante


Queria desvirar a gola de sua veste

pois talvez ele nao tenha mais quem o faça;

queria beijar sua face rosada

desse senhor que poderia ser meu avô


Com os bracos cruzados para tras

compensava a leve envergadura que com a idade se faz

contemplando algo que pairava pelo ar.


Seriam as flores ou as sirenes ?

Talvez os graos de polen sobrevoando contra a luz do sol poente ?

Ou algo que so à ele faz sentido...

Dificil de ser dito.


Balbuciou algo, vi seus labios se mexerem

algo que eu jamais irei saber

pois deu-me as costas em seguida

partindo sem eu querer .

lundi 18 avril 2011

Diante da Fonte




Fecho os olhos e ouço

o barulho da fonte

soando como a chuva caindo em tempestade no telhado da minha casinha.





Abro os olhos e vejo

seus jatos transparentes buscando o céu,

atravessados pela luz do sol jorrando prateados e espirrando goticulas ao redor.



Fecho os olhos e sinto

o calor penetrando em minha pele, alcançando as profundezas mais frias em mim,

maltratadas pelo inverno vigoroso que se foi.



Abro os olhos e presencio

Iago transbordando alegria, celebrando com seus carrinhos vermelhos

Vida se expandindo em movimento.

samedi 16 avril 2011

Atmosfera

So vejo rostos sisudos

no trem de volta pra casa

De cansaço ou preocupaçao

Seriedade às vezes sem razao…



La vem a moça de oculos em forma de trapézio,

Apressada com o casaco debruçado no braço

e uma mecha teimosa colada na testa

deixando como visao so uma fresta



Tenta abaixar um banco retratil ao meu lado querendo se sentar

so que ela nao percebeu que nao havia banco nenhum para ela abaixar…



Quando finalmente olhou e constatou o acontecido

eclatou-se em um riso ingenuo e impreciso



rimos entao, em solidariedade, uns cinco ou seis ao redor,

e por alguns segundos,

a atmosfera ficou mais leve, aerada, descontraida,

nao podia ficar melhor




Nos sorrisos que nao queriam partir, o registro inegavel

da leveza que pairava, graças à um momento partilhado

de uma sutil beleza.

dimanche 10 avril 2011

Envolvida por uma casinha


Tem uma casinha bonitinha

com o jardim cheio de florzinhas amarelinhas.

Todo dia que passo em frente à ela,

uma so coisa me vem à mente :



Ali eu estaria bem contente.



Seu telhado é certamente do seculo passado.

Um pé de glicinia sobe pelas paredes

tomando o espaço de algumas venezianas

pintadas de azul claro.



Azul claro que encrustado na madeira encontra o lilas das glicinias, com o azul turquesa do céu ao fundo

Fazendo um tom sur tom profundo.



Os bambus usados como muro me cochicham num sussurro

e seu portao enferrujado a bater me convida

a rever por segundos aquele chao de terra batida.



Na textura de suas paredes, muitas historias devem estar escondidas

Sera que elas me contariam como foram vividas ?

mardi 5 avril 2011

Dentro de um livro



Que poder é esse que o livro tem, que leva a gente pra dentro dele e la nos retem.

Posso comer lendo, beber lendo, andar lendo.

Minha fome, minha sede e meus passos nao existem, sou interiormente devorada por ele, pelas suas reticencias e incongruencias.

E como se estivesse debruçada numa janela acompanhando o desenrolar da historia. Nao quero que ela termine, pois nao poderei nunca mais acompanhar a vida dos personagens, que ja fazem parte da minha.

No ultimo capitulo, me preparo intensamente para a despedida. Protelo, deixo pra depois; mas o momento de termina-lo é um desfecho inevitavel. E entao, de luto, deixo-me ser digerida por ele, até a ultima frase.

Vendo-me no dia seguinte, nao me reconheço, falta algo, uma relaçao, um eixo.

Os momentos vividos pela leitura preenchidos, parecem o vazio da partida de um parente querido.

Quem é essa que agora vê a abandonada da historia ?

jeudi 17 mars 2011

Anseio

Ha um mês atras, pela estrada, admirei surpresa muitas aves de rapina. Acho que eram falcoes pelegrinos. Todos estavam sobre a cerca entre o campo e a estrada. Destemidos, olhavam imponentes.
Todos observavam o que acontecia ao seu redor. Resguardavam algo.
Talvez ja sentissem a proximidade da primavera, talvez ja vissem os brotos das arvores surgindo, enquanto a chuva caia de mansinho.

O frio começou cedo e ja vai tarde, primavera fez saudade.

E num piscar de olhos, as cerejeiras japonesas da cidade começaram a florir. Embelezando as laterais sujas dos trens, apareceram em cores vivas compondo com o cinza, que era a cor da vez.
Alegria em branco e rosa, silenciosas senhoras orientais, longe da terra natal, floriram amenizando o caos.

Na tarde de terça os vinte graus acariciavam a face e explicavam a alegria na cidade. 
Que o calor venha logo, vigoroso e intenso como foi o frio que vai partindo, sumindo, indo, indo...

samedi 26 février 2011

Arvores Nuas


Os ramos das arvores no inverno ficam visiveis.
Sem as folhas, desnudam-se para qualquer um ver, para quem quiser ver.
Expoem-se inteiras, as arvores, da cabeça aos pés.
Suas curvas, cicatrizes, harmonias, simetrias. Suas marcas, sua idade.
E a renovaçao da vida surge em seus brotos prestes à desabrocharem na primeira brisa quente de primavera.
Daquela que parece seca, ressurge a vida com toda força.
Sao ainda mais belas vistas ao entardecer, sem se moverem, parecem dançar passando rapidamente diante de meus olhos, que tentam acompanha-las de dentro do carro.
Diferentes umas das outras, cada qual seguiu seu crescimento, mas todas seguiram o mesmo caminho.
Primeiro criaram raizes, da terra tiraram a força que criou seus corpos.
A cada ano dao novos brotos que se expandem mais e mais, buscando sempre o alto.
Criando sua propria historia, sua trajetoria.
Que eu possa sempre admira-las nuas assim, belas e fortes, as arvores.

vendredi 18 février 2011

Sob os raios da lua cheia

Aniversario entre amigos. Ponto de encontro : restaurante italiano no segundo bairro de Paris, mais precisamente numa travessa da rua Montorgueil. Para la chegar, descemos na estaçao Chatelet Les Halles, antigo mercado central da cidade, hoje centro comercial e entrocamento de nada mais nada menos do que oito linhas de trens e metro. Alem das lojas, piscina, midiateca e a possibilidade de se deparar inesperadamente com a igreja de Saint Eustache. Coisas de Paris. Por aqui isso pode acontecer tambem com a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, a igreja de Sacre-coeur, a Notredame de Paris, surpresas que o topo das escadas rolantes nos reservam...
E la estava ela, mais um dos lindos monumentos da cidade, amarelada  pelas lampadas que valorizavam seus contornos, com a compania um pouco mais à direita, da lua cheia na mesma tonalidade... Com as pontas das orelhas geladas cruzamos as ruas do bairro, e todos os outros que tambem compartilhavam do frescor do ar e do brilho sedutor da redondinha la no alto do céu.
Entre taças, risadas descontraidas, belas massas e molhos, esquentamos nossos corpos e espiritos, terminando com um cremoso vinho quente na virada da meia noite. No caminho, uma pedinte se descontraia com seu celular, rindo sentada sobre o chao frio, cena surreal dos contrastes da vida humana. Outro grupo carregava caixas de mudança, cruzando os musicos de metro, que voltavam para casa (?), apos mais um dia de trabalho... E a lua ali, testemunhando os bem aventurados e os nem tanto, encantando a todos com seu brilho opaco de rainha.

dimanche 13 février 2011

Ca com meus botoes.




Eles chegaram um dia la em casa em grande numero, na bagagem da Vo Marly. Muitos botoezinhos, num potinho de creme de Avon.

Por que tao longa viagem ? Ninguém sabe ao certo… o que motivou a Vo Marly a faze-los atravessar o oceano.Nem ela mesma .

Muito bonitinhos, todos com pelo menos dois furinhos nas mais variadas cores e formas. Passaram um longo tempo tranquilos, hibernando no pote de creme, até que um dia foram descobertos, como o genio da lampada fôra outrora por Aladim.



O Aladim espoleta la de casa se chama Iago, que, maravilhado com as miudezas tao numerosas, tratou de liberta-las pela casa para todo o sempre.

Levou alguns para passear em suas xicaras coloridas, onde os botoezinhos saculejantes faziam as vezes de suco ou cha, enquanto outros passeavam como passageiros de seus carrinhos e até mesmo se transformavam em bombeiros destemidos.

Um belo dia um misterio de fez e todos desapareceram de uma so vez ! Onde o meu Aladim os teria colocado ? Sera que criaram vida e sairam em debandada ?


Vivi a cada dia os anseios dos botoes que redescubria espalhados pela casa, me divertia, entrando neles e me vendo diante desse mundo imenso, sendo um botaozinho desses bem pequeninos, como um dia foram meus meninos…

Os que tinham sede, encontrei alegremente afogados no fundo da minha garrafa de agua, que procuro nas sedes da madrugada. Dois deles, bem transparentes, esperavam com agua na boca embaixo da cafeteira o aroma do café fresquinho. Ja um branquinho de borda vermelha, perdido de algum vestidinho vermelho atrevido de menina brejeira, esperava impaciente o banho dentro da saboneteira. Um azul teimoso se alojou, grudado na massinha, no fundo de uma tacinha laranja e la ficou. Impossivel retira-lo, esse ja tinha, por conta propria, o destino traçado. Mas os mais ousados foram dois bem escuros que camuflados pelo movel de TV, esperavam um programa proibido para assitirem escondido.


Por um bom tempo ainda surgiram alguns desbravadores, nos cantinhos dos corredores e nos lugares mais inusitados. Reuni todos para que voltassem para casa, mas até hoje sinto falta da alegria que sentia quando os encontrava. Quem sabe ainda nao encontro algum solitario; quem sabe, quem sabe... aqui em casa, nunca se sabe...

samedi 12 février 2011

Vagaros-a-mente

A ida ao supermercado se transformou num passeio. O mundo muda de tempo quando os passos sao lentos, o corpo muda de peso.O sol batendo nas costas, trazia um calorzinho bom e criava uma sombra brincalhona na nossa frente. Cada pedaço de concreto sugeria uma corda bamba ao equilibrista Iago, que pé ante pé, terminava-o com um salto de ginastica olimpica.

Compra feita, carrinho cheio, tomamos o caminho de casa. Iago carrega o pacote de salsichas, nao pode deixa-lo de lado... até ficar diante da faixa de pedestres. Me devolve as salsichas para saltar sobre cada faixa branca enquanto atravessa a rua. Em seguida, as pede de volta. Uma senhora passa, me olha nos olhos sorrindo e diz que "c'est mignon", Iago em seu capuz vermelho...

E o trajeto termina com o "Abre-te Sésamo" da porta da garagem, e o "Fecha-te Sésamo" assim que a luzinha laranja começa a piscar, num final de tarde que poderia ter sido so mais um fim de tarde.

dimanche 6 février 2011

Seu olhar pelo meu olhar.

A noite é perfumada. Cheira a flor, a perfume doce, a fumaça misteriosa.
Pessoas circulam, param, conversam, voltam, atravessam a rua sem olhar. Ela é um tapete vermelho aveludado aos reis e rainhas em desfile...e os carros seus suditos, param diante de suas majestades.

Olham para cima, agradecendo sonhos realizados.
Olham para o lado, em busca dos sonhos imaginados.

A noite é uma criança, um convite ao infinito céu estrelado, à brisa fresca do instante presente.

E seguem noite adentro, quase saltitantes, em seus casacos pretos e colants brilhantes.

samedi 5 février 2011

O gorro.

Alguém perdeu um gorro diante da porta do trem. Bem diante dela. Todos o viram. Impossivel nao vê-lo. Mas fizeram como se ele nao estivesse ali. Como fazem as vezes uns com os outros.
Ele estava espalhado no chao, bonitinho. A cabeça que ele protegia do frio, nao voltara recupera-lo, esse instante ja passou, se perdeu. Sera que ele voltara a aquecer a cabeça de alguém ?

Um musico e duas jovens identicas entram no trem. Pequenas bolsas debaixo dos olhos cansados das meninas sorriam enquanto cantavam juntas, e por curtos instantes as romenas cantando em italiano entravam na mesma frequencia, e suas vozes ocupavam todo o vagao, ressoando na minha cabeça, anestesiando o falatorio que havia nela. Surgiu entao o som das moedas se encontrando em nome desse agradecimento, saindo de quem partilhara essa frequencia.

E ao partirem na estaçao seguinte, algum misterioso passageiro resolveu dar destino ao gorro que acolheu certamente à toda a vibraçao; deve ter ido feliz aquecer a cabeça de alguém, exercer sua funçao.
E eu, que segui adiante, senti um alivio por nao vê-lo mais abandonado no chao.

vendredi 4 février 2011

Pensées em pensamento

Dias sem fim, -3, -4, nem uma nevezinha pra dar leveza à tanta frieza.
Anteontem o tempo melhorou. Subiu alguns graus. Pude andar sem luvas na rua, até os passarinhos festejaram.

Eu, cansada de olhar minha varanda seca, sem nada, resolvi plantar. Comprei uma bandeja de pensées, nosso amor perfeito, e lembrei do mês de maio, ha um ano atras, quando a Vo Seiko chegou aqui em casa e viu minhas pensées (que significa pensamento em frances). Toda manha ela falava de como estavam bonitas, minhas pensées... E elas, iam ficando cada dia mais envaidecidas com esse olhar todo admirado da vovo. Aquelas ja se foram, trouxeram pulgoes e nao aguentaram o verao, deram o lugar à geranios e outras formosuras. Agora é a vez de outras caçulas ganharem força com a neve o o frio que estao por vir, para no mês de maio novamente estarem resplandecentes até fazerem os outros sorrir.

E o ciclo entao começar novamente, com a primavera tomando a frente.

Vo Seiko, plantei pensées pensando em voce... Mas dessa vez voce nao esta aqui pra ver...

Gratidao


(Depois de um mes de Brasil, de volta ao nosso ape, ele pareceu mais colorido e claro. O tempo foi encomendado, "doux"... por volta de 8 graus.
No domingo, dia 16, escrevi para o pessoal de casa o texto abaixo, depois de refletir sobre a emoçao vivida no aeroporto antes de embarcar.)

Acabei de limpar os banheiros aqui de casa, so agora me deu pique, depois de passear duas horas no parque de Sceaux. Fez um dia lindo, ceu azul e clima ameno, 12 graus. Mesmo bem cheio de gente o silencio no caminho me encheu de alegria, descobri que estava com saudades dele. E o sol fraquinho, com o ventinho gelado estava muito relaxante, sensaçao tao gostosa quanto o clima dai, quente que chega a abraçar a gente.
Iago brincou bastante, correu e catou galhos secos como gosta de fazer, voltamos com os pés cheios de barro e tive que lavar os sapatos no bidê, so o do Roti estava premiado de coco, dizem que da sorte, né ? Compramos o pao de tradiçao da unica padaria aberta às 17h da tarde e um pao aos cereais, acho que vou fazer uma sopa do Picard que achei no freezer e deixar o que sobrou do salmao do almoço pra galera, alias, Vo Seiko, Iago comeu um monte de nori enroladinho com arroz e salmao, convenci o figura pois ele tinha me ajudado a fazer, hehe .
Ariel acabou de chegar, tinha ido jogar bola com os amigos(o que nao faz ha muito tempo) e esta comendo clube social, os que restaram da viagem. Chegamos esbagaçados e resolvemos voltar de taxi, lotamos o carro com as malas...
Enfim, todo esse bla bla bla é pra contar que estamos bem, felizes com tudo que vivemos com voces e gratos, infinitamente (infinnement) por tudo que fizeram por nos. Acho que era essa a razao do meu choro incontido no aeroporto, meu coraçao estava transbordando de gratidao.
Amo cada um de voces, e nao sintam aquela saudade dolorida nao por que o tempo so depende da nossa relaçao com ele, e o amor é maior que ele, nao o leva em conta.