jeudi 22 novembre 2018

Os tomates e o pássaro.

Dias atrás, chegou a hora de me despedir de meus pés de tomate. Entre nós se criou um tipo de relação de mãe e filho; onde eu os nutria de cuidados e alimento, e eles me nutriam por sua vez com seus frutos. Enquanto eram doces e tenros, os colhi com escantamento e gratidão. Com um maravilhamento do milagre da vida, em sua forma mais perfeita. Mas com os dias mais curtos e menos ensolarados, os pequenos começaram a ficar extremamente ácidos. As geadas se anunciavam.
Reservei uma tarde calma e ensolarada, a horta estava vazia. Podia escutar os pardais que papeavam e de repente mudavam de lugar em revoada.
Colhia ternamente meus ultimos filhotes tomates, ainda verdes. Ia tentar amadurecê-los em casa. Um senhor havia me contado um segredo...que eles certamente iriam rugir se presenciassem nudez pela casa. Certeza que isso aconteceria em casa...
Já revirando a terra, me surpreendo com um passarinho de ventre laranja e bico fino que me olha fixamente. Fico imóvel de imediato, como se quisesse ficar transparente para que ele se aproximasse e não se sentisse ameaçado. E incrivelmente foi o que aconteceu. Me senti transparente, fazendo parte dessa terra, desse céu. Partilhando com ele esse instante, me retirando para que ele ocupasse o espaço. Instantes longos se passaram, de inusitada comunhão. Enquanto ele beliscava minhocas com o bico, fui me sentindo mais livre para também me mexer, como se ele permitisse que eu usufruisse de sua companhia, não se sentindo mais ameaçado. E do jeito que veio, se foi, me deixando ali, pequenina e inteira com meus tomates verdes.
O cansaço e o lamento de arrancar meus tomateiros, aos quais tinha me apegado profundamente, deram lugar a sensação de que tudo tem sua hora e lugar. Era a vez do pássaro se alimentar...

Aucun commentaire: