mardi 13 novembre 2018

Pedaço de livro, vivo.

Quando o livro fica zanzando na bolsa e não vem pra mão, eu não insisto. Tudo ao seu tempo. Pode faltar espaço no metro para abri-lo, pode ser que o por do sol esteja mais interessante; que as crianças barulhentas azucrinando o provavel pai estejam mais divertidas do que as páginas desconhecidas.
Eis que, como eu não tenho chegado à ele, um trechinho de um chegou à mim. Passa das oito e meia da noite e pegamos a linha 6 no ponto inicial, voltando pra casa.
Sento numa das poltronas internas do ultimo vagão, próxima a janela, pra ver a Torre Eiffel. Colada na janela, um envelope branco, dizendo "Sirva-se : Noite Branca Cervejas Calmas". Hesito, mas não me demoro a ceder à curiosidade. Pego uma das folhas, duplas, impressas em letras grandes, com trechos espalhados em meio as linhas padronizadas. Sorrindo, me deixo entrar na brincadeira. Descubro ali uma vida que poderia ser a minha, a do meu filho, ou da minha vizinha. Uma mãe espanhola que aluga um quartinho pro filho e fica muito p... pelo estado do lugar. Entramos na mudança, na arrumação, no relaxamento do serviço acabado...e por fim, na partida da mãe, deixando ao filho, cochichando ao pé do ouvido, o contato de um pai desconhecido.
Entre uma página e meia dúzia de estações, meus ombros relaxam e voam visitar outras vidas. Gratidão pelo envelope encontrado naquela janela, reconheço agora a falta que estar num livro me faz...

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