samedi 6 juin 2009

Desabafo



A palavra é perplexidade. Hoje me vejo perplexa diante de certas concepçoes na educaçao que, a meu ver, foram completamente desvirtuadas. Sei tambem que muitos dirao que sao consequencias do mundo de hoje e todo o discurso que acompanha esse tipo de justificativa, que os pais tem que trabalhar para criar os filhos, e as escolas tem que fazer o papel dos pais, etc.
Todos escutamos inumeras queixas de violencia, delinquencia e que o mundo esta cada vez mais repleto de pessoas que so pensam em si mesmas e em seus desejos materiais. Tudo bem, ha os que dirao tambem o contrario, que ha a turma da paz, que luta por um mundo mais solidario… Mas noto que sao nas pequenas relaçoes do dia a dia, que me pego absolutamente inconformada com o que vejo e como isso ressoa em mim.
Tudo começou pelo programa que assisti pela manha, chamado « Les maternelles », dedicado aos pais que precisam de orientaçao ou informaçao de como lidar com seus filhos. Ontem, o tema do programa tratava de bebes que choravam sem parar… todos devidamente presos em seus bebes conforto e muitos alimentados atraves de mamadeira. Nenhuma das maes teve a brilhante ideia de carregar o bebe como um pequeno canguru, como ela havia feito por nove meses enquanto ele esteve em seu ventre, nenhuma delas pensou que o seu cheiro e seu leite poderia curar essa angustia, nem os especialistas que la estavam. Um bebe que vem ao mundo sem receber nenhum amparo, ou o amparo suficiente nesta mudança que significa o nascimento, precisa de compreensao; e quem decide ser mae tem que arcar com a sua decisao e ser mae ate que veja seu filho seguro e independente. E assim com os animais, que acompanham instintivamente seus filhos ate que sintam que estao prontos para a vida. Quando decide-se pela maternidade, tem-se que estar consciente da mudança de prioridade na vida, que por um tempo é preciso Ser Mae, e que todo o resto é secundario. Se nao for assim, a meu ver, nao ha razao de se desejar a maternidade, pois esse desejo sera mesquinho e egoista, e os filhos desse tipo de opçao, os futuros problematicos e bandidos que vemos tanto.
Hoje, no mesmo programa, o assunto era sobre as maes que tinham feito a opçao de amamentar seu filho. Uma das entrevistadas dizia que nao sabia se queria esse tipo de contato fisico com o filho (?!) - filho esse que saiu de sua propria barriga, filho esse resultado de uma historia de amor ! Por que essas maes nao conseguem se colocar no lugar de seus filhos ? Por que nao compreendem que tambem ja foram bebes ? Algo no arquetipo feminino se perdeu, o seio, à priori, é fonte de alimento, e nao objeto ligado à sexualidade, algo se inverteu neste caso, e é preciso que isso seja dito.

No parque com o Iago, observo sempre as relaçoes pais e filhos, babas e suas crianças. E tudo muito distante, como se cada um vivesse dentro de seu proprio mundo - as crianças com seus olhares perdidos e os pais, perdidos em suas ligaçoes telefonicas. Graças à Deus, porque Ele ainda olha por elas, existem exceçoes… e se vê na expressao de uma mae que carrega seu filho no colo o amor em abundancia… Nao falo de permissividade, de mimo, de super proteçao, mas pura e simplesmente de amor.

E um pequeno de seus 3 anos, que se arrastava pelo chao de pedrinhas e areia, brincando com seus bonequinhos e transformando sua vida por meio das relaçoes entre os bonecos foi obrigado a, primeiro escutar as pessoas que nunca foram crianças em volta dizerem que « ele brinca assim pois nao é ele quem lava a roupa « ; e em seguida, a abandonar seu jogo saudavel porque seu pai, incomodado com os comentarios alheios, partiu, tentando leva-lo o mais carinhosamente possivel… Faço questao de me sentar no chao, de brincar de pega pega com o Iago, entrar no meio do mato, de acompanha-lo, para que vejam que é disso que uma criança precisa : de compreensao e interaçao.

Que mundo é esse, como somos cegos ao ponto de nao perceber que nos mesmos criamos os neuroticos e delinquentes do futuro, ao ponto de continuarmos a viver dentro de uma bolha onde so interessa « o que eu quero, o que eu gosto, o que é bom para mim ».
Aqui na França, ai no Brasil, em todo lugar do mundo, criança é criança e deve ser tratada como criança. E so saberemos como olha-las quando olharmos pelo seu ponto de vista, quando nos lembrarmos que ja fomos como elas. E como tudo é mais simples quando somos pequenos, so precisavamos de AMOR.

Sera que seremos capazes de nos livrarmos da nossa arrogancia e assumirmos nossa ignorancia, admitindo o quanto perdemos ao abrirmos mao da criança que mora em nos ?
Que todos estejamos abertos ao novo olhar que proporciona o contato e o respeito à criança, que possamos aprender mais e mais com elas, com sua pureza autentica de viver a vida.
Com muito mais a dizer, paro, ja foi feito o desabafo

2 commentaires:

Leandro Souza a dit…

Crys, adorei esse texto. Tambem tenho sofrido demais com as escolhas que temos feito, com a falta de sensibilidade e amor, com a dificuldade de enxergar as coisas de forma simples, intuitiva... Acho que estamos nos tornando uma espécie pior, mais burra, menos sensivel, mais fraca de corpo e alma.... estamos ficando artificias demais.

Posso imaginar a angústia que sente ao presenciar cenas como essa, é uma agressão para aqueles que valorizam a unica coisa que realmente tem valor, a vida. Eu nao suporto mais, me faz mal e por isso estou fugindo da civilização. Cada vez mais me escondo no meio do mato, prefiro viver cercado pela natureza, onde posso conviver com a vida, a brincadeira, o lúdico...

Vc não sabe a felicidade que fiquei ao ver o seu comentário no meu blog. Mais feliz ainda fiquei ao passar por aqui e perceber que temos sensibilidades e preocupacoes parecidas e que velhos amigos aparecem segurando a luz no fim do tunel, quando mais precisamos.

Muito bom te reencontrar!
Saudades.
Le

Leandro Souza a dit…

Não. Acho que foi na segunda série, quando entrei no Aquarius.