mercredi 3 octobre 2018

Se deixar nutrir

Atualmente tem sido difícil me permitir ser surpreendida pelo novo. Eis que diante de uma delicadeza simples, a aproximação foi praticamente inevitável.
Me encontro diante da proposta de um conjunto de pratos coloridos, de misturas inusitadas e desconhecidas, como se tivesse sido preparado especialmente pra mim. Não há praticamente escolha, e gosto disso.
Da pequena bocada que chega para abrir a sequência à sobremesa, uma grande experiência se faz.
O restaurante não é japonês, nem totalmente francês. Um chefe japonês contextualiza à sua maneira a cozinha francesa, com primor.
O primeiro copo de saquê já anunciava a surpresa. Delicadamente doce, o sabor era encontrado ao longe, como se fosse o destino de um longo trajeto. A taça de haste fina praticamente exigia uma atenção especial na aproximação à boca, com o aroma chegando antes. O segundo copo era artesanal, mais fermentado e rústico, e ainda assim acompanhava o peixe com delicadeza e frescor.
O polvo grelhado se casava com seus acompanhamentos de forma nova e inusitada a cada garfada. Gostos novos e conhecidos me surpreendiam como se o mar estivesse ao fundo, se oferecendo em perfume com cada ingrediente que encontrava, folhas, flores, raízes... Marcel Proust me emocionara com suas madeleines, mas não saberia que poderia viver o mesmo.
Me rendo definitivamente à emoção que encontro na sobremesa. Como se vivesse o encontro dos primeiros pêssegos de verão, declinado em várias formas, perfumes e texturas; a arte de equilibrar e respeitar um produto me alimenta profundamente. 
Choro de alegria ao perceber que aos 45 anos o novo ainda me espera, logo ali, se eu estiver disposta à me abrir à ele... 

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