lundi 26 mars 2018

Vivendo sob as rédeas do tempo

Conversando estes dias num café, com uma amiga, ela me perguntou sobre a nossa vinda à França, como viemos parar aqui e se tínhamos vontade de voltar.
Há dez anos chegávamos aqui, carregando os três filhos, achando que a aventura duraria mais 3 ou 5 anos...et voilà que ainda dura.
Todas as circunstâncias da vida que no fizeram voltar, acabaram quase se desfazendo na minha memória. Todo o apego a esse passado de explicações e justificativas haviam ficado guardados em algum lugar empoeirado de mim.
Revivi naquela conversa a resistência dos meninos. O engajamento imediato, mesmo que dolorido do Hector, que sempre se lançou abertamente e com confiança às nossas propostas; e a postura contrária do Ariel, que cruzando os braços afirmara um curto e grosso "Não, eu não vou". Não, eu não me lembro bem dos meus sentimentos nessa época, talvez fossem um bocado confusos, talvez eu compreendera, pela primeira vinda, que expectativa é um treco que só atrapalha. Segui algo que me atrai, uma vontade de se lançar no novo.

Voltando ainda mais alguns anos, me lembro do nosso primeiro período em Paris. Tão importante para nos fortalecermos quanto família, vivido tão intensamente. Mas nos últimos dias que antecederam o 13 de maio de 2005 criei uma expectativa do retorno que me traiu. Olha só, fôra traída por mim mesma !
Acreditem, é possível...
Muitas coisas não se passaram como eu esperava, e fiquei muito tempo perdida entre um desconforto de não sentir toda a felicidade que imaginara, e da falta que a França me fazia. Só ia compreender de verdade quando voltaria pra cá em 2008, que a cada mudança a vida se reinicia. 
A vida não dá um pause. A vida mora nesse tempo que depende em parte de nós mesmos, de como o utilizamos, do gosto novo que experimentamos nele a cada dia. E nós também não somos os mesmos, se prestarmos bem atenção...podemos não ver o tempo passar, mas ele tem efeito sobre nós diretamente...
Depois de oito anos na mesma cidade, há dois estamos na cidade vizinha. E tenho o pressentimento que não entendi ainda a amplitude das mudanças. Que tenho muito à aprender.
Só tenho um forte sentimento : que me tornei "filha" do mundo, sem um apego ao lugar onde estou, não pertenço mais ao Brasil, nem tampouco à França; é como se, por momentos, pudesse ter a sensação de não pertencer à lugar nenhum, à poder partir à qualquer momento pra qualquer lugar.
E essa impressão, tem um gosto enorme de liberdade... 

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