lundi 3 septembre 2018

Entre dois


Volto pra dentro. Estive fora, tão fora, completamente fora. E dentro, tanta fala, tantas vozes. Preciso escrever enquanto estou aqui, no ar, entre os dois. Os dois continentes que amo, os dois países aos quais pertenço.
Volto à falar comigo mesma, à preencher minhas linhas e romper as distâncias. Pois sim, descobri que escrevendo estou perto, tão perto de todos, do que a minha presença física é incapaz de preencher. Ficamos cúmplices de algo que não precisamos falar, gravado nas linhas entre quem escreveu e aquele que leu. 
Aceito voltar. Preencher as linhas com essa voz que me habita, tentar registrar a vida que corre em mim, enquanto as lágrimas correm sobre mim. Bach toca em meus ouvidos, estou rodeada de muitos, mas completamente só. Não estou mais no mundo dos abraços, do cheiro de umidade no ar, da flor de laranjeira, dos risos altos. Volto para onde estava, pra dentro. E aguardo a diluição do tempo, o mundo dos sussurros me retomar, do reencontro com a vida alimentada de longe.
Sou agora, sob esse mar que sobrevôo, o vazio da alma que não queria partir. Serei o que o tempo permitir que reste do perfume e da vibração da minha origem.

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