vendredi 3 août 2018

Esfoladas da vida

Fui buscar uma biblioteca que uma amiga me deu e me esborrachei no chão. Não vi um degrau.
Nem me lembro quando foi a última vez que esfolei o joelho, de escorrer o sangue até o pé, mas a dor é a mesma do meu tombo no bolão - meu triciclo lendário - aos cinco anos. Ali com a minha amiga, que me deu um algodão úmido com antiséptico, me lembrei das tantas esfoladas que tive.
Primeiro lembrei das que minha avó cuidou, as muitas que ela coloriu gentilmente de mercurio cromo pra não arder. Um belo tombo na beira da calçada cimentada na frente da casa dela ralou não só meu joelho mas cada um dos meus dedos da mão esquerda. Olhava-os cicatrizar, e deixar suas marcas...pelo menos elas não arderam. Mas me acompanham ainda hoje...
Os outros tombos vivi por dentro. Não esfolaram à olhos nus, mas as cicatrizes permaneceram. Olhei as feridas, elas arderam, mas aguentei. Elas deixaram belas cicatrizes, finalmente. 
E o que sou hoje, e o que talvez ainda virei à ser, é um apanhado das minhas esfoladas pela vida; as cicatrizes, meus troféus por encarar sua ardência. Me sinto mais forte graças à tê-las aguentado, a perceber que elas não são tão doídas assim. Com o tempo a dor se vai, e a gente fica.  
Meu joelho está ardendo, mas a biblioteca está montada e lindona cheia de livros. Esfoladas, podem vir que eu ainda aguento...

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