mardi 27 février 2018

Miséria interior

Ontem a noite, me deitei ouvindo o vento balançar a veneziana do meu quarto. Barulho gostoso, mas fui pega ao mesmo tempo por um horrivel sentimento...do que devem sentir todos os 3000 "sem domicilio fixo" de Paris. Ontem a noite e nos proximos dias, teremos os dias mais frios dos ultimos tempos... -8 com sensaçao termica de -20 graus. 
A primeira vez que senti um frio desses foi num lugar maravilhoso chamado Annecy. Fui invadida por uma impressao de morte lenta, começando a perder a sensaçao das extremidades, dando um mal estar e uma sensaçao de indiferença ao que estava ao redor. Nosso amigo Nena estava la, e acho que guarda essa mesma lembrança. 
De que adianta estar em Paris, em tais condiçoes ? E por que nos somos imunes a essas pessoas que, independente dos motivos que as fizeram viver nestas condiçoes, nos pedem ajuda.
Claro que nao podemos ajudar a todos, mas eu nao aceitei colaborar mensalmente com os "Medecins du Monde" quando bateram a minha porta. Por que ? Porque tenho apego a todas as pequenas coisas que me rodeiam ? Porque sou mesquinha. Porque julgo o outro, como a sociedade me ensinou a fazer e nunca lutei contra. Que ridicula essa minha sensibilidade seletiva. Só dou quando recebo algo em troca, quando acho que a pessoa "merece". Doeu sentir tudo isso, mas imagina o quanto doi em cada um dos pedintes que cruzo e nada dou.
Um sabio, mestre de um ensinamento espiritual, disse a uma das suas discipulas, que se interrogava sobre nao conseguir ajudar todas as pessoas com as quais cruzara :
- Se voce nao tem condiçoes de faze-lo, ao menos reze sinceramente para que a próxima pessoa que cruzar com ela a ajude.
Nao, isso nao me exime e me liberta da minha miséria. Mas agora nao posso dizer que ela nao existe em mim, e talvez, numa outra oportunidade, agir de outro modo...


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