vendredi 9 février 2018

Partilha da manga

Fui no Exótico essa semana, um mercadinho que cheira especiarias misturado aos produtos misteriosos que se encontram. Desde que cheguei passei a frequenta-los, pois encontro uma porção de coisas pra cozinhar como no Brasil. Muito do que pra nós não tem nada de exótico, é bastante por aqui, mas nesse tipo de mercado esse nome faz bastante sentido.
Encontro shoyu, vinagre de arroz e nori; e até pasta de missô japonesa ! Compro também ingredientes africanos que aos poucos fui descobrindo o que eram : foufou é o nosso polvilho azedo, farine de manioc é a farinha de mandioca crua; semoule fine de mais é fubá. Até dois tipos diferentes de feijão africanos tão bons quanto os nossos eu achei ! 
Dentre os exóticos, pra mim, estão produtos congelados roxeados que nunca vira antes...parecem peixes, mas nunca tive a audácia de me aproximar; algumas verduras desconhecidas, raízes gigantes e bananas verdes. 
Mas no caixa é que me delicio, pois perto deles sempre vigiam mangas do Brasil, que são tratadas feito rainhas. Embrulhadas em plástico rendado, ficam expostas numa mini vitrine transparente, intocáveis. As de hoje vinham do Perú e estavam acomodadas ao lado de um belo mamão Formosa brasileiro, que aqui chamam de Papaya. Me aproximei delas com cuidado, cheirando-as de perto, sem encostar e o perfume me conquista. O fundo doce, mas ainda ao longe, de fruta que ainda precisa de mais uns dois dias pra estar no ponto, no auge de sua plenitude.
 Ariel descascou-a ontem, depois de me pedir permissão, como se ele também não ousasse retira-la da pele vermelha e brilhante. Talvez simplesmente não pudesse mais ficar somente sentindo seu perfume impregnando a sala e a cozinha. Enquanto descascava lentamente, pra não perder nenhum milímetro de suculência, lembrei de várias ocasiões em que nos lambuzamos com elas por aqui, e de como ela é abundante e variada na nossa terrinha. Das mangas coquinho da casa da Seiko, das do sacolão : saborosa, mas com fio, ou sem graça, mas mais macia. Ainda lembro da textura de um tipo que derretia na boca, enquanto o caldo escorria pelo braço, quando me presenteava com o caroço e o perfume que fica nas mãos. Texturas, cheiros e contextos registrados na minha memória gustativa, a mesma que partilho hoje com meus filhos, que talvez um dia eles partilhem com os deles... 


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