mercredi 16 mai 2018

No frescor da idade

Nem sempre ela me reconhece quando nos cruzamos na rua, mas quando tenho tempo, abordo-a delicadamente. Pequena senhora de quase 90 anos, charmosa com seus cachinhos grisalhos num corte chanel, abriu um sorriso como faz sempre. Se dizia atordoada pela maratona de palestras que tem acompanhado no Collège de France, com o frescor de uma garota de 20 anos. Poderia escutá-la por horas, admirando a sensibilidade de alguém com tanta experiência e tão aberta ao mesmo tempo.
Como muitos idosos franceses, ela me impressiona pela enorme energia, o brilho nos olhos quando conta suas últimas idéias na produção de peças de teatro, dos feitos dos netos, e talvez bisnetos, longínquos.
Ela é avó de três amigos dos meninos, que tem a mesma idade; naturalmente, e em momentos diferentes,  todos foram amigos.
Atualmente é a vez de Iago e Nathan. Tocam o mesmo instrumento, partilham o mesmo suporte na orquestra. Há alguns anos, Hector e Ariel partiram em férias à casa da familia no sul da França, e quando ela os reencontra sempre abre um grande sorriso, emocionada.
Se diverte me contando as tardes que passa com Nathan, e partilhamos a alegria da espontaneidade que as crianças trazem, da sua maneira tão pura de ver a vida.
Se essa intimidade com o mundo secreto infantil, que interessa tanto a ela quanto a mim, for o segredo da sua jovialidade impressionante, talvez eu esteja no bom caminho, o de envelhecer sabiamente, aberta e à escuta...

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