mercredi 2 mai 2018

Sinceridade do gesto

A cena salvou o dia. Cinzento, morno, com gosto de inútil, apesar de eu ter feito tanta coisa. Mas nada mais importante que isso.
Deixo o Ariel com seu skate em frente ao supermercado. Parada no farol, o observo. Ele estende a mão e cumprimenta, olhando nos olhos, o rapaz que pedia dinheiro junto à porta. Ele já tinha me falado de sua atitude em relação às pessoas que pedem dinheiro na rua, mas é a primeira vez que vejo.
O choque não veio da atitude dele, mas da naturalidade daquele aperto de mão. Naturalidade da qual eu sei que não seria capaz. Olhar naqueles olhos, como até costumo fazer quando dou uma moeda, mas sem piedade.
No meu olhar de piedade não há ajuda, há quase uma comprovação de derrota. Há uma superioridade medíocre, pois nada me faz superior àquele ser humano que tem a coragem de pedir ajuda. Eu, no meu orgulho, nunca teria.
No olhar do Ariel tinha parceria, no sorriso, a prova da existência de alguém habituado a ser tratado como invisivel. Um instante de companheirismo cheio de dignidade. Ele não podia dar mais que isso, e deu certamente mais do que eu dou com minhas moedinhas... Generosidade talvez seja dar aquilo que temos de mais precioso, que vem de dentro, do fundo, que não podemos fabricar...
O farol abriu, e fui embora com um sentimento bizarro de vergonha e felicidade por esse menino ser assim, tão mais sincero que eu, tão mais maduro do que eu poderia imaginar. 


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