lundi 30 avril 2018

De grão em grão

Frio e vento lá fora. Ontem teve até tornado na região de Champagne. O tempo pede um bom chá e a preparação longa de um bom feijão.
Cresci ajudando minha avó a escolher, separar os grãos machucados, comidos pelos carunchos, e até algumas pedras. Adorava separar as montanhinhas e o barulho que fazia quando os escolhidos iam pra bacia. Lá, ele era carregado no alho e tinha bastante caldo. Meu avô sempre começava a refeição por um prato de feijão com um fio de azeite e molho inglês, quando era dia de feijão fresco. Ali ele tinha que render, pois o meu avô podia convidar um cliente pra almoçar de imprevisto.
Minha mãe também fazia o feijão como o da minha avó, com um caldo abundante, marrom clarinho. Uma amiga minha era tão fã do feijão dela que pediu para a própria mãe perguntar a receita... 
Já o feijão preto da tia Sueli, perfumava a casa toda no dia que chegávamos em Angra dos Reis. Ela fazia especialmente por isso, para que chegássemos e ele estivesse ainda fumegando no fogão... depois de seis horas de viagem, a gente comia virando os olhos !
Muitos anos depois fui conhecer o feijão que acabou se parecendo com o meu. Foi na casa da Seiko, minha sogra, que encontrei o feijão que me pegou de jeito. Caldo grosso, dessa vez. Ele cozinha quase até desmanchar, e a gente esmaga um pouco para aumentar a cremosidade.
Hoje é dia. Aprendi que se deixá-lo trinta minutos de molho na água fervida, equivale à uma noite de molho. Depois jogo essa água do molho fora, para que ele fique mais fácil de digerir. Alguns dentes de alho esmagados, vem acompanhar uma cebola que refogo à parte, sem deixar queimar. Junto no refogado uma ou duas conchas de feijão, e esmago bem : é esse gesto que vai fazer engrossar o caldo. Despejo então na panela, e deixo perfumar todo o resto do feijão. É nesse momento que gosto de cheirar a leve névoa que sobe com o fogo baixo...e que perfume, que se espalha pela casa até o corredor do prédio. Tem dias que nem faço mistura, para que ele seja o prato principal; tem dias que cedo à uma farofa... De todo jeito, ele é unanimidade...
Hoje não resolvi ainda, deixo o entardecer cinza e o perfume de louro me guiar e traçar minha vontade. 

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